O secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), Ban Ki-moon, alertou ontem às maiores economias mundiais que os mais pobres não deveriam arcar com as consequências de planos para reduzir dívidas públicas e deficits governamentais.
Líderes do Grupo das 20 economias desenvolvidas e em desenvolvimento concordaram no fim de semana em Toronto, no Canadá, em tomar caminhos diferentes para reequilibrar seus orçamentos e tornar seus sistemas bancários mais seguros, um reflexo da frágil e desigual recuperação econômica em muitos países.
;Todos nós estamos preocupados com os crescentes deficits e dívidas públicas;, disse ele. ;Mas nós não podemos equilibrar os orçamentos às custas das pessoas mais pobres do mundo. Nós não podemos abandonar nosso compromisso com os mais vulneráveis;.
Longo prazo
Grupos globais de combate à pobreza se juntaram recentemente a Ban nas críticas ao G-20 e ao Grupo das oito nações desenvolvidas, afirmando que eles não cumpriram as promessas de ajuda às nações pobres e em desenvolvimento. ;Nós precisamos manter um foco forte no longo prazo;, disse Ban.
A ONU apoia a declaração feita pelo G-20 no fim de semana de que ;reduzir a diferença de desenvolvimento e reduzir a pobreza é integral ao nosso objetivo mais amplo de conseguir um crescimento forte, sustentável e equilibrado;, disse o secretário-geral da ONU.
Ban, que compareceu à cúpula do G-20, disse que defende três tipos de investimento que, segundo ele, gerarão ;retornos altos e imediatos;: em emprego, em tecnologia ;verde; e ecologicamente correta, e em sistemas de saúde, especialmente para mulheres e crianças.
Na semana passada, um relatório da ONU disse que os esforços para diminuir a fome no planeta foram minados pela crise econômica global, ainda que o mundo continue caminhando para cumprir a meta de redução da pobreza até 2015.
O relatório disse que é vital que os doadores do mundo desenvolvido cumpram seus ;compromissos não cumpridos; se pretendem alcançar o objetivo de cortar a pobreza pela metade e outros objetivos da ONU, conhecidos como as Metas de Desenvolvimento do Milênio.
Crise pode ressurgir
Basileia, Suíça ; O Banco de Pagamentos Internacionais (BPI) advertiu sobre um risco de ;recaída; da economia mundial em um período de crise se os governos não estabelecerem um prazo para seus planos de estímulo conjunturais e de políticas monetárias vantajosas.
;Conjugados com as vulnerabilidades que subsistem no sistema financeiro, os efeitos colaterais dos cuidados intensivos (à economia mundial) aplicados durante um período tão logo podem criar riscos de recaída;, enfatizou o BPI em seu informe anual.
Segundo a instituição que reúne os bancos centrais mais importantes do mundo, ;os programas de apoio aos mercados e aos estabelecimentos (bancários) criaram uma dependência da qual o sistema financeiro corre o risco de ter dificuldades de se libertar;.
O BPI estima, além disso, que a economia mundial também está fragilizada pelos riscos que correm novamente os bancos ameaçados por uma crise do setor imobiliário comercial (depósitos, escritórios), que poderá provocar mais perdas no setor financeiro. ;Pode-se esperar que a exposição (dos bancos) no (setor) imobiliário comercial provoque novas perdas;, advertiu o BPI, que celebrou no fim de semana sua assembleia anual em sua sede em Basileia.
Sob medida
O diretor-geral do BPI, Jaime Caruana, apoiou o anúncio da cúpula do G-20 de potências industrializadas e emergentes do fim de semana, em Toronto, no Canadá, onde foram recomendadas medidas de reativação diferentes para cada país.
;As medidas a tomar em cada país dependerão das circunstâncias que lhe são próprias. A amplitude dos problemas orçamentários e a situação dos sistemas bancários variam segundo as economias. Não existe um remédio universal;, declarou Caruana.
Em reação às medidas anunciadas para reduzir os deficits públicos e a dívida soberana, o chefe do BPI enfatizou que ;nunca são fáceis de tomar; e saudou ;a coragem dos governos que se dedicam a essa tarefa;.
Durante a crise financeira em 2008, os Estados decidiram resgatar os bancos com planos de apoio em massa. Também injetaram milhares de milhões de dólares para reativar suas economias afetadas pela recessão. Mas estas medidas tiveram como resultado uma explosão do deficit público e do endividamento, principalmente na Europa.