Os países ricos e os em desenvolvimento reúnem-se a partir desta sexta-feira (25/6) no Canadá com mais divergências do que consensos sobre como continuar impulsionando o crescimento, reduzir o problema da dívida pública e controlar o sistema financeiro.
O americano Barack Obama considera que ainda são necessários mais pacotes de estímulo para que a economia avance, enquanto os europeus, que têm a chanceler alemã, Angela Merkel, na liderança, vão à cúpula após anunciar grandes cortes orçamentários.
A China anunciou uma valorização de sua moeda, considerada muito desvalorizada por alguns parceiros comerciais, enquanto países emergentes como Brasil e Índia não desejam assumir os custos da desvalorização de divisas fortes e da entrada em massa de capitais provenientes do mundo desenvolvido.
"Há mais coisas dividindo do que unindo americanos e europeus na agenda econômica", afirma Heather Conley, especialista em relações exteriores do Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais (CSIS).
Essas diferenças poderão aparecer a partir da sexta-feira na reunião do G8 - os países mais industrializados -, que ocorre em Musoka (Ontário, oeste do país).
Apesar de o G20 ter substituído o G8 como fórum de debate econômico mundial, Estados Unidos e seus parceiros ocidentais preferem manter essa fórmula mais reduzida, explica Stewart Patrick, especialista do Conselho de Relações Exteriores.
"O G20 provou ser mais lento que o G8", opina esse especialista.
Mas essa vontade de manter o G8 não parece facilitar o debate entre as duas zonas econômicas, EUA e UE, que exibem ritmos diferentes de recuperação e de política econômica.
[SAIBAMAIS]"Devemos ser flexíveis para ajustar o ritmo da consolidação e aprender com os erros cometidos no passado, quando as medidas de estímulo foram retiradas cedo demais", advertiu Obama em uma carta enviada aos líderes do G20 na semana passada.
O G8 deverá confrontar um recente relatório interno que demonstra seus resultados medíocres na luta contra a pobreza.
Os países ricos prometeram em 2005 aumentar sua ajuda ao desenvolvimento para até 50 bilhões de dólares, mas faltam 18 bilhões para cumprir esse objetivo.
O anfitrião, o primeiro-ministro canadense Stephen Harper, espera compensar essa imagem ruim com a aprovação de uma nova iniciativa de luta contra a mortalidade materna e infantil no mundo.
Em torno de 8 milhões de crianças morrem anualmente no mundo por causas médicas que poderiam ser evitadas, segundo a ONU.
A polêmica econômica corre o risco de aumentar no G20, que se reúne a partir de sábado em Toronto.
A proposta de uma taxa bancária, apoiada por Alemanha e França, não interessa a outros participantes como Japão e China.
"Não vai haver nenhuma forma de apoio dentro do G20", antevê Fariborz Ghadar, outro especialista do CSIS.
A China está em uma posição defensiva, depois de ter flexibilizado desde segunda-feira a taxa de câmbio do iuane, em uma tentativa de aplacar as crescentes pressões americanas.
Finalmente, países como Brasil ou Argentina, que saíram bem da recente crise econômica, não querem arcar com as consequências do desacordo de seus sócios mais ricos.
"Durante muito tempo, todos eles opinavam sobre o Brasil. Não queremos opinar sobre eles. Queremos apenas que esses países façam tudo aquilo que diziam que o Brasil deveria fazer", criticou o presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
O Canadá gastou em torno de 1 bilhão de dólares para organizar ambas as cúpulas, uma cifra que despertou controvérsia e que fomentará a realização de protestos por parte de sindicatos e organizações não-governamentais.