Os juros reais praticados no mercado brasileiro, um dos mais altos do mundo, e o jogo de cintura do governo no decorrer da crise internacional continuam atraindo capital de outros países para o Brasil. Os investidores estrangeiros estão de olho nos títulos públicos nacionais e aumentaram de 8,63% para 8,95% sua participação no total da dívida mobiliária interna. Em maio, a fatia de investidores de outros países na dívida brasileira bateu recorde histórico e somou R$ 133,4 bilhões. O quadro reforça a dependência do país a esse tipo de aplicação, que atualmente contribui para tapar parte do rombo nas contas externas, mas pode escapar rapidamente caso o cenário internacional fique mais conturbado.
De acordo com o coordenador da dívida pública do Tesouro Nacional, Fernando Garrido, a boa impressão passada pelos fundamentos da economia nacional é o fator que mais atrai o investidor estrangeiro, que, ao comprar os títulos públicos ; em sua maioria com prazos mais longos ;, aposta na estabilidade e em uma aplicação considerada mais segura. ;Em relação a alguns papéis europeus, por exemplo, os títulos brasileiros têm ficado (com preços) mais estáveis nos últimos meses;, considerou.
Apesar de admitir que os juros reais pagos por aqui abrem ainda mais o apetite do investidor, o Tesouro Nacional defende que a perspectiva de ganhos altos não é suficiente para segurar os dólares em momentos de grande turbulência no mercado internacional. ;Alguns indicativos de solidez econômica também são necessários;, disse.
De acordo com o Tesouro, os estrangeiros também vêm em busca de papéis de menor prazo, mas a preferência continua sendo por títulos prefixados mais longos. ;Se essa for a maior parte, o governo tem tudo a celebrar, pois é um financiamento genuíno;, avaliou o ex-diretor da Área Externa do Banco Central, Carlos Eduardo de Freitas. Para ele, a detenção de títulos brasileiros por estrangeiros só pode se tornar indesejável se for expressa em um grande volume de títulos atrelados à taxa Selic ou à variação cambial.
Investidores flexíveis
Segundo o Tesouro Nacional, alguns fundos de investimento estrangeiros já estão afrouxando suas regras para poderem aplicar no Brasil. O coordenador-geral de planejamento estratégico da dívida pública, Otávio de Medeiros, afirmou que recentemente a instituição identificou a compra de papéis brasileiros por um fundo soberano internacional que, inicialmente, exigia que o país tivesse duas notas de classificação acima do grau de investimento brasileiro.
Para Freitas, a decisão desses fundos pode estar refletindo uma espécie de antecipação por parte dos gestores, de que o Brasil pode ter sua nota elevada em alguns anos. ;Fora que no Brasil temos, por exemplo, a agroindústria, que é um setor que deve crescer durante vários anos;, considerou. ;A situação dos Estados Unidos não é boa e a China é uma caixa preta no que diz respeito à economia. O que sobra é o mercado europeu, onde as perspectivas econômicas também não são as melhores;, ponderou.