Após a dura ata do Comitê de Política Monetária (Copom) na semana passada, o mercado elevou as projeções para a taxa básica de juros (Selic) em 2010, que passou de 11,75% para 12% ao ano, segundo relatório divulgado ontem pelo Banco Central. Essa expectativa de arrocho mais intenso do que o plano original do Banco Central fez o ânimo do empresariado começar a piorar, o que deve afetar a economia real. Cresceu a quantidade de executivos que acreditam em condições de crédito menos favoráveis no terceiro trimestre, apontou pesquisa da Serasa Experian. Em consequência, avançou também o número dos que pretendem cortar ou adiar investimentos por causa dos juros. A parcela dos empresários que planejavam contratar recuou. Agora, eles devem apenas manter o quadro atual de funcionários.
Para o economista Eduardo Otero, da corretora Um Investimento, não será surpresa se as projeções da Selic crescerem até 12,5%. ;O Banco Central colocou na ata que a atividade no mercado doméstico é a principal ameaça para gerar inflação. Já os fatores externos (a crise na Europa) não representam problema para ele. Para que esse cenário de alta seja mantido, a gente não pode ter uma piora lá fora e os dados daqui têm de continuar robustos;, argumentou. O economista-chefe do banco Schahin, Sílvio Campos Neto, concorda. ;Caso houvesse uma piora exacerbada na Europa, o BC teria de interromper mais cedo o ciclo de aperto para voltar a impulsionar a economia;, ponderou.
Ciclo de aperto
A despeito do receio que ronda a Zona do Euro, o mercado não aposta em piora intensa da economia externa, mas acredita que a demanda doméstica no Brasil continuará a pressionar os preços. ;Por isso, estamos crentes na necessidade da continuidade do ciclo de aperto monetário nas próximas reuniões do ano. Nossa visão incorpora mais duas altas de 0,75% e uma última de 0,50%, completando o ciclo em outubro;, afirma Maristella Ansanelli, economista do Banco Fibra.
Em virtude desse cenário, os executivos do país começam a projetar piora nas condições de crédito e investimentos. Pesquisa da Serasa Experian mostrou que, até o segundo trimestre, 31% dos empresários acreditavam em financiamentos mais acessíveis neste ano. Agora, o número recuou para 29%. Também caiu dois pontos percentuais a quantidade dos que apostavam em condições de crédito iguais às do início de 2010.
;Essas quedas representam uma migração para os que acham que as condições vão ficar pior;, afirmou o assessor econômico da Serasa, Carlos Henrique de Almeida. O número de pessimistas chegou a 19% dos entrevistados.
Cheque sem fundo em baixa
Com a expansão da renda nos últimos anos e o desemprego em níveis baixos, o consumidor tem corrido às lojas e gastado como nunca (foto). A despeito das compras desenfreadas, os índices de inadimplência seguem em baixa. Segundo a Serasa Experian, o volume de cheques sem fundos em maio de 2010 foi o menor para o mês desde 2004 ; 1,86% de todos os papéis em circulação na praça. O acumulado do ano também carrega um recorde, o menor número de calotes com esse meio de pagamento desde 2006. De acordo com a Serasa, além de todo o círculo virtuoso da economia, que tem proporcionado aos brasileiros uma maior disponibilidade de recursos, o brasileiro tem evitado o uso do cheque. (VM)