Jornal Correio Braziliense

Economia

Fundo Soberano será usado para comprar ações do Banco do Brasil

Criado em 2008 com sobras do superávit primário (economia de dinheiro para pagar os juros da dívida pública), o Fundo Soberano do Brasil (FSB) será usado pela primeira vez. Os recursos do fundo, que tem R$ 17 bilhões aplicados há dois anos, serão destinados ao aumento de capital do Banco do Brasil.

O Fundo Fiscal de Investimento e Estabilização (FFIE), onde estão aplicados os recursos do Fundo Soberano, recebeu autorização para comprar até 21,85% das novas ações que serão ofertadas pelo Banco do Brasil. Se for levado em conta o valor de mercado dessas ações, o investimento pode chegar a R$ 1,7 bilhão, cerca de 10% do total disponível do Fundo Soberano.

Segundo comunicado divulgado nesta quinta-feira (17/6), o FFIE poderá comprar até 62,5 milhões de ações do Banco do Brasil, que emitirá ações para reforçar o caixa. O banco usará os recursos obtidos dos investidores para expandir a oferta de crédito e financiar aquisições, como a compra dos bancos Nossa Caixa, de São Paulo, e Patagônia, da Argentina.

Previsto para o início de julho, o lançamento das ações também servirá para adequar o Banco do Brasil às exigências do Novo Mercado, sistema da Bolsa de Valores de São Paulo que abrange empresas com mais transparência e com parcela considerável das ações em negociação na bolsa.

Para fazer parte do Novo Mercado, a empresa precisa ter 25% das ações em circulação. O Banco do Brasil só têm 21,9% das ações na Bolsa. A capitalização permitirá ao banco alcançar o percentual mínimo, mas a participação da União, que detém os outros 78,1% no banco precisa ser diminuída.

Nesse segmento, as empresas são obrigadas a colocar até 25% das ações em negociação no mercado. O Banco do Brasil, que tem 21,9% dos papéis em circulação, vai aproveitar a realização da capitalização para atingir esse porcentual obrigatório. No entanto, a participação do governo, que detém os 78,1% restantes por meio de ações do Tesouro e de fundos estatais de pensão, precisa diminuir.

Para aumentar o capital do Banco do Brasil sem injetar recursos do Tesouro ou dos fundos de pensão, o governo está usando o Fundo Soberano. A autorização foi dada pela Medida Provisória 487, publicada no final de abril.

Pelo texto da medida provisória, a União pode deixar de participar diretamente do aumento de capital de estatais. No entanto, esse direito só pode ser cedido a um fundo em que o governo federal seja cotista único, como o Soberano e o futuro fundo do pré-sal.

Formado com 0,5% do Produto Interno Bruto (PIB) de 2008, o Fundo Soberano estava até agora sem utilização. Na ocasião, o governo injetou cerca de R$ 15 bilhões, que foram transferidos para o FFIE, fundo de natureza privada onde o dinheiro ficou rendendo até atingir os R$ 17 bilhões atuais.

Na época, o governo alegou que o objetivo do FSB era retirar dinheiro de circulação da economia e conter a inflação. Também cogitou-se o uso do fundo para retirar parte dos dólares que entram no país e elevar a cotação da moeda norte-americana.