O que à primeira vista parece motivo de comemoração, preocupa governo e analistas financeiros em uma perspectiva de mais longo prazo, porque os reflexos de uma demanda muito superior à capacidade de oferta, já evidentes nos indicadores de inflação, geram riscos ao crescimento futuro.
O comentário é da economista-chefe de uma instituição financeira, Maristella Ansanelli, ao repercutir o crescimento econômico de 9% no primeiro trimestre, sobre igual período do ano anterior, ou a evolução de 2,7% sobre o trimestre anterior, o que projeta uma expansão de 11% em termos anualizados.
Segundo ela, os números da economia no primeiro trimestre impressionam. Principalmente em relação aos investimentos, que registraram aumento anualizado superior a 30% pelo terceiro trimestre consecutivo, numa tentativa dos empresários de acompanhar o acelerado ritmo do consumo doméstico.
Maristella Ansanelli ressaltou, contudo, que a recuperação da formação bruta de capital fixo não é suficiente para elevar os investimentos em níveis necessários para sustentar ;taxas chinesas; de crescimento. Para vislumbrar tal velocidade de expansão, ;ainda dependemos de reformas estruturais que se encontram muito distantes de implementação;, afirmou.
Ela acrescentou que o ;exuberante crescimento não parece sustentável;, além de ser responsável pela pressão nos preços e nos salários. A economista considera que os baixos níveis de poupança e de investimentos são os principais limitadores do crescimento brasileiro, que não pode se expandir a taxas muito acima de 4,5% sem gerar pressões na inflação.
O economista Silvio Campos Neto bate na mesma tecla e diz que o ;ritmo excessivo de crescimento; tende a acentuar os desequilíbrios provenientes de um cenário em que a demanda interna se expande a uma taxa acima da capacidade de oferta da economia.
Segundo ele, a expansão do emprego, da renda e do crédito, evidenciada nos dados do Produto Interno Bruto (PIB), gerou um ambiente favorável ao consumo e à consequente aceleração inflacionária para níveis acima do centro da meta de 4,5%, neste ano e em 2011. Sem falar que a expectativa de déficit de US$ 48,5 bilhões na conta corrente externa de 2010 também é reflexo dessa conjuntura, afirmou.
Campos Neto entende que cabe à política monetária promover ajustes no ritmo de crescimento da demanda interna, o que já está em andamento com dois reajustes consecutivos de 0,75 ponto percentual na taxa básica de juros (Selic) em 28 de abril e 9 de junho. Como ;a economia permanece muito aquecida;, o economista acredita em mais dois aumentos de igual ;dosagem; nas reuniões que o Comitê de Política Monetária (Copom) realizará nos meses de julho e setembro.