São Paulo ; A retomada da economia doméstica, depois de um breve mergulho na recessão provocada pelo estouro da bolha imobiliária americana, gerou grandes perspectivas para o comércio varejista, mas também injetou combustível na disputa travada entre lojistas e donos de shopping centers. Os comerciantes se queixam de abusos na cobrança de aluguéis, gritam contra a falta de clareza na aplicação de taxas condominiais e defendem a regulamentação legal dos contratos entre as duas partes.
Para o presidente da Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL), Roque Pellizzaro Junior, a intervenção do Estado na forma de lei serviria para equilibrar a relação com os shoppings. ;Não queremos tabelar preços, porque isso quem define é a dinâmica do mercado, mas queremos que o Estado atue para frear os excessos em um dos lados;, defendeu. A principal proposta da CNDL é a criação de uma espécie de lei do inquilinato específica para o segmento, que evite, por exemplo, a cobrança de mais de 12 aluguéis por ano. ;Alguns shoppings cobram até 15; aluguel. Quando alguém aluga uma casa, o preço é definido pelo mercado, mas você só pode cobrar um aluguel por mês;, comparou.
O presidente da Associação Brasileira de Lojistas de Shoppings Centers (Alshop), Nabil Sahyoun, reconhece que a rigidez de alguns administradores prejudica os lojistas. Ele disse que um dos excessos cometidos pelos shoppings é a cobrança de taxas de rescisão de contrato equivalentes a seis ou oito aluguéis. ;Uma loja que está saindo do shopping, normalmente está com problemas para se manter e, para ela, esse valor é impraticável;, admitiu. Apesar de concordar que os preços de aluguéis poderiam ser menores, o executivo é contrário à regulamentação por via legal e recomenda o diálogo para minimizar as diferenças no setor. ;Quanto menos o governo interferir, melhor. É preciso buscar uma relação de equilíbrio, com muita conversa;, afirmou.
Incompetência
De acordo com pesquisa realizada pelo instituto Vox Populi por encomenda da CNDL, 10,9% dos lojistas de shoppings apontam a má administração (por ausência, incompetência ou inflexibilidade) como um dos principais pontos negativos do comércio nesses centros de compras. Além da cobrança de aluguel indevido e de taxas de rescisão abusivas, os lojistas reclamam da diferenciação entre as grandes redes varejistas, que recebem benefícios específicos para abrir pontos em shoppings, e as lojas menores, conhecidas no jargão do setor como ;satélites;. ;Claro que os menores (lojistas) se beneficiam do fluxo gerado pelos grandes, mas essa diferença poderia ficar apenas na negociação do aluguel;, comentou Pellizaro. Uma das vantagens recebidas pelas grandes redes é o tratamento diferenciado na divisão do condomínio do shopping, que, segundo os lojistas, não respeita necessariamente a área ocupada por comércio.
O embate no setor foi levado ao Legislativo, onde uma frente parlamentar (do Comércio Varejista) discute, entre outros temas, a questão da regulamentação dos contratos entre lojistas e shoppings. Em tom bastante crítico, o presidente da CNDL reclamou que a aprovação de normas para o setor demora a sair por conta da pressão dos donos de centros comerciais, mas admitiu que os lojistas utilizam a mesma estratégia. ;É legítimo que haja essa movimentação de ambos os lados, desde que não se utilize de métodos obscuros;, concluiu.