Brasília - Um estudo do Instituto Brasileiro de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) comprovou o que boa parte da população que viaja de avião já sabe: os aeroportos brasileiros não estão dando conta da demanda pelos serviços de aviação civil. E a situação pode piorar, uma vez que o estudo prevê que o mercado doméstico de transporte aéreo aumentará em pelo menos três vezes nos próximos 20 anos, caso o Produto Interno Bruto Brasileiro (PIB) cresça num ritmo de 3,5% ao ano.
;Quando a solicitação de pousos e decolagens é maior do que a capacidade máxima de operação dos aeroportos, a solução é deslocar o voo para outros aeroportos ou para outros horários;, disse hoje (31) o coordenador de Infraestrutura Econômica do Ipea, Carlos Campos, ao lançar o estudo Panorama e Perspectivas para o Transporte Aéreo no Brasil e no Mundo.
O estudo, que faz parte da série Eixos do Desenvolvimento Brasileiro, aponta o Brasil como o país de maior potencial de desenvolvimento na área de transporte aéreo entre os emergentes. Campos explica que apesar de a América Latina ter pequena expressão neste mercado, a região é a que tem registrado as maiores taxas de crescimento nesse tipo de transporte.
;Os maiores aeroportos já estão operando no limite. Parte disso se deve aos preços mais acessíveis e ao crescimento da economia brasileira. Há também a influência da complexidade industrial, que está promovendo um crescimento recorde do transporte de mercadorias, tanto no âmbito interno como externo;, disse o pesquisador.
Consultor do Ipea para a pesquisa, Josef Barat explica que 97% de toda a movimentação de passageiros e cargas passam necessariamente pelos 67 aeroportos administrados pela Infraero. ;Temos de discutir o futuro dessa empresa. Um fator complicador é o de que não há contrato de concessão entre ela e a Anac [Agência Nacional de Aviação Civil]. E por a empresa não se caracterizar como uma concessionária, a Infraero acaba exercendo o papel de reguladora dela mesma;, argumenta.
Segundo o estudo, nenhum dos dez aeroportos pesquisados tem capacidade para dar conta dos pedidos de pousos e decolagens nos horários de pico. Todos eles estão localizados em cidades que provavelmente sediarão jogos da Copa do Mundo de 2014.
;Veja a situação em São Paulo. Guarulhos, por exemplo, tem capacidade máxima de fazer 53 operações por hora. No horário de pico a demanda é de 65 pedidos de pousos e decolagens. Em Congonhas a capacidade é de 24, enquanto a demanda é de 34. O aeroporto de Brasília tem capacidade para operar 36 voos por hora, mas possui uma demanda [em horário de pico] de 45 pedidos;, disse.
Em Manaus, a relação tráfego real e capacidade operativa é de 17 para 9. Uma diferença que chega a quase 100%. No aeroporto de Porto Alegre essa relação fica em 14 (capacidade por hora) para 20 (número de solicitações de pousos e decolagens).
Em Curitiba (PR), a capacidade operativa é de 14 voos por hora, e a demanda durante o horário de pico é de 18. Em Natal são feitos 8 pedidos para uma capacidade de 7 pousos e decolagens por hora.
No aeroporto Santos Dummont (RJ), são registrados nos horários de pico 18 solicitações para uma capacidade de 15 voos por hora.
;Claro que se não forem feitos investimentos adequados o país corre risco de não dar conta e enfrentar um apagão;, avalia Barat. ;Os aeroportos deveriam se preparar para receber mais passageiros e aviões mais modernos com uma antecedência de 40 anos;, acrescenta.
Ele aponta como fatores restritivos à expansão do sistema aéreo brasileiro os gargalos de infraestruturas aeroportuária e aeronáutica, além da escassez de recursos humanos qualificados em diversos segmentos, e a elevada carga tributária do país. ;Os aeroportos com maior crescimento de demanda não recebem vantagens de investimentos na mesma proporção.;