Jornal Correio Braziliense

Economia

Juros devem ir a 10,25%

Analistas não acreditam que a crise internacional mudará a política monetária. A alta da Selic em junho será de 0,75 ponto percentual. BC brasileiro é apontado como modelo no controle de preços

O Banco Central não terá muita escolha na próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) a não ser elevar os juros novamente em 0,75 ponto percentual como feito na reunião passada, na previsão de analistas de mercado. Qualquer outro comportamento, seria contrário à rigidez imposta e mantida pela gestão do atual presidente, Henrique Meirelles, que melhorou nos últimos anos a reputação da instituição perante outras economias globais.

Além de ter contribuído com a superação da recessão do ano passado, o BC brasileiro é um dos primeiros do mundo a reagir rapidamente ao avanço da inflação, mesmo que a maior parte do mercado considere que ele tenha atrasado o ajuste. De acordo com o gestor de renda fixa da Personale Investimentos, Carlos Thadeu de Freitas Filho, comparada à demora de outros países, o Brasil agiu rápido. ;Em vários países da América Latina, as expectativas de inflação já estão há três ou quatro anos acima da meta e os bancos centrais não realizam os ajustes necessários. Aqui, assim que as projeções passaram do centro da meta(1) e se tornaram desconfortáveis, o BC agiu;, afirmou.

O economista, no entanto, lembra que a rapidez na reação da autoridade monetária brasileira pode estar relacionada ao histórico negativo de inflação elevada no país. ;O BC está no fim de um processo de ganho de reputação. Nossa inflação não é baixa, mas moderada e pode chegar a média, se nada for feito e ela continuar girando em torno de 5% ou 6%. A nossa meta alta explica a atenção do banco, enquanto outros países podem se dar ao luxo de ter expectativas elevadas;, avaliou.

A meta central do BC é de 4,5% no ano, com uma margem de tolerância de até dois pontos percentuais para mais ou menos. Atualmente, a estimativa do mercado é de que a inflação chegue a 5,6% em 2010.

Em outros países, as metas são menores. No Chile, a inflação tem que ficar em 3% ao ano, com intervalo de um ponto percentual para cima ou para baixo, mesma meta estipulada para o México. Na Austrália, o intervalo permitido para a inflação é entre 2% e 3% e em Israel, outro país que respondeu rapidamente ao crescimento da inflação, o avanço de preços tem que ficar, no ano, entre 1% e 3%.

Segundo Freitas Filho, há um consenso no mercado de que a meta brasileira é muito alta. ;Em algum momento, precisará ser revista, para ficar mais próxima aos padrões internacionais. Quando isso será feito, é impossível saber;, afirmou.

1 - Número a perseguir
O Brasil adotou o Regime de Metas de Inflação em junho de 1999 depois de um forte ataque especulativo. Esse regime resguarda o poder do Banco Central de conduzir a política monetária de forma a cumprir a meta de inflação definida pelo Conselho Monetário Nacional (CMN) para os dois anos subseqüentes.