Jornal Correio Braziliense

Economia

É registrada a maior inflação em 22 meses

IGP-M dispara em maio e alcança 1,19%. No ano, o índice chega a 4,79%, puxado pelos alimentos e pelo minério de ferro, que subiu 49,76% só neste mês. Em abril, havia caído

O monstro da inflação está apontando as suas garras e ameaçando os brasileiros novamente. O bolso dos consumidores e o caixa dos produtores ficaram bem mais apertados com a alta dos preços em maio, avançando 1,19% no mês e acumulando 4,79% no ano, segundo o Índice Geral de Preços ao Mercado (IGP-M), calculado pela Fundação Getulio Vargas. O indicador não subia tanto em um único mês desde julho de 2008. O produto que mais afetou o indicador foi o minério de ferro, insumo da indústria siderúrgica, usado em diversos produtos, como automóveis e eletrodomésticos. Somente em maio, o mineral ficou 49,76% mais caro, ante a queda de 1,06% em abril.

Apesar de não ser utilizado oficialmente como diretriz para o controle da inflação ; o Banco(1) Central utiliza o IPCA ; o IGP-M serve de base para o reajuste de vários itens da economia. Este índice, de janeiro a maio, já acumula alta superior à meta de 4,5% definida pelo governo para todo o ano. Até abril (o dado de maio ainda não foi divulgado), o IPCA totalizava 2,65%.

O minério de ferro deve continuar pressionando o IGP-M, na avaliação do economista-chefe da Máxima Asset Management, Elson Teles. ;Creio que o índice ainda não captou toda a alta e deve registrar os avanços (de preços do insumo) por mais um ou dois meses;, afirmou.

Pesando no bolso
Os produtos alimentícios foram os que mais encareceram em maio para o consumidor final, liderados pelo feijão-carioquinha, que avançou 22,24%. A batata-inglesa, por sua vez, ficou 14,41% mais cara em maio. Apesar do impacto no orçamento familiar para as compras no supermercado nos últimos meses ; no acumulado do ano os alimentos avançaram 7,73% ; é justamente por essa via que os consumidores podem esperar um alívio nos preços, na análise do gestor de renda fixa da Personale Investimentos, Carlos Thadeu de Freitas Filho. ;Nos próximos meses, vamos ter uma redução da inflação mensal. Os alimentos, que cresceram muito, vão dar uma folga agora;, avaliou.

Teles reforçou o coro das boas notícias: ;A inflação deve dar uma bela desacelerada por conta de alimentação. Subiu muito no começo do ano e, agora, deve devolver um pouco dessa alta. Vai estabilizar as expectativas e ajudar o Banco Central (no controle da inflação);, afirmou. Freitas Filho, no entanto, alerta que a redução dos alimentos também pode ser pontual e a colaboração para a queda da inflação pode ser por pouco tempo.

Alguns produtos deste segmento já contribuem para evitar uma inflação maior. O tomate liderou o ranking dos mocinhos da inflação com queda de preços de 21,50%. Também se destacaram na lista das reduções a laranja-pera, o açúcar refinado e o pimentão.

1 - Indicador de reajustes
O IGP-M registra alterações de preços de matérias-primas agrícolas e industriais e de bens e serviços consumidos pelas famílias. É calculado pela Fundação Getulio Vargas (FGV) com base em preços pesquisados entre os dias 21 do mês anterior e 20 do mês de referência. É usado na correção de contratos de aluguel, energia elétrica, TV por assinatura e outros.

Aço deve subir até 15%

A indústria siderúrgica deve sentir na pele os avanços do aumento de preço do minério de ferro, o que deve afetar diversas cadeias produtivas. A estimativa é de que o insumo fique de 20% a 30% mais caro no terceiro trimestre, o que vai levar o setor a promover novos reajustes no aço. Ao longo do ano, os preços já dobraram e a expectativa é que a correção das siderúrgicas fique entre 8% e 15%.

De acordo com o economista-chefe da Máxima Asset Management, Elson Teles, a indústria deve conseguir repassar percentual entre 15% e 20% da elevação de custos. Apesar da influência na elevação do IGP-M, o consumidor só sentirá o aumento de custos no produto final se as condições de mercado estiverem favoráveis, com a produção aumentando, por exemplo. Não é o caso do setor automobilístico onde a fabricação caiu de 339 mil unidades em março para 290 mil em abril, segundo a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea).

Algumas empresas do setor siderúrgico, como a Usiminas, a Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) e a Gerdau já sinalizaram, ao apresentar os balanços do primeiro trimestre de 2010, que vão elevar os preços, em função da alta estimada do minério de ferro. A estimativa da Usiminas é de que essa elevação fique entre 10% e 15%.

O governo já está de olho na disparada dos preços do aço. O ministro da Fazenda, Guido Mantega, prometeu zerar a alíquota de importação do produto, que foi elevada a 12% em julho do ano passado, diante da pressão das siderúrgicas. As empresas alegavam que foram obrigadas a suspender a produção e a demitir funcionários por causa da queda da demanda, decorrente da crise mundial. No entanto, o governo não vê mais sustentação nesse discurso e promete agir para manter a inflação sob controle.

Os produtores de automóveis, maquinários, eletrodomésticos e setores ligados à construção civil são os mais dependentes do aço. De acordo com dados do Instituto Aço Brasil, a produção de aço bruto no ano passado chegou a 26,5 milhões de toneladas, com capacidade de fabricar mais de 42 milhões de toneladas por ano. (GC)