O governo da Venezuela lançou nesta semana uma ofensiva contra o mercado paralelo do dólar, fechando casas de câmbio, prendendo cambistas e suspendendo temporariamente as transações com moeda estrangeira, com um pacote de medidas que pode sufocar a economia, segundo especialistas.
"Estávamos diante de um golpe cambial. Eles queriam um infarto econômico (...) Tivemos que assumir as rédeas de tudo isto", explicou na quinta-feira o presidente Hugo Chávez.
Até esta semana, apesar do controle estatal do câmbio, o dólar paralelo era utilizado de modo não oficial para a obtenção da moeda americana em troca de títulos ou bônus, com o valor variando em função da oferta e da procura.
Nos últimos meses, este mercado registrava valores muito superiores às taxas oficiais do dólar, hoje em 2,6 bolívares para importações prioritárias, fundamentalmente do Estado, e 4,3 bolívares por dólar para as demais transações.
A partir de agora, o Banco Central (BCV) assume o exclusivo controle das operações com o dólar, em detrimento das casas de câmbio e dos negócios no paralelo.
"A economia sofrerá um severo choque e sua contração vai se agravar devido à falta de divisas. O governo está atacando as consequências e não as causas do problema", declarou à AFP o economista José Guerra.
Em 2009, o Produto Interno Bruto (PIB) da Venezuela recuou 3,3%.
Segundo a procuradora-geral Luisa Ortega Díaz, desde a semana passada foram fechadas 12 casas de câmbio que vendiam dólar no paralelo, com a prisão de cinco pessoas.
As operações de compra e venda de títulos em moeda estrangeira estão suspensas por duas semanas.
"Evitamos um verdadeiro desastre, uma máfia montada pela burguesia", disse Chávez. "Presumimos que estas casas de câmbio estavam lavando dólares do narcotráfico".
A partir de agora, o BCV fixará os preços do dólar dentro de um sistema de bandas e fará a intermediação entre compradores e vendedores de bônus.
"Haverá de fato uma desvalorização" da moeda nacional, disse Guerra, estimando que o preço fixado pelo BCV para este mercado irá além dos 4,3 bolívares por dólar, a taxa oficial.
"Mas quem começou a vender bônus a um câmbio superior ao oficial?! O próprio governo", lembrou um operador, referindo-se à operação, em 2009, da estatal Petróleos de Venezuela (PDVSA), que lançou milhões de dólares em bônus ao dobro da cotação oficial.
Na Venezuela, é o governo que libera os dólares para empresas e pessoas físicas, mas estas divisas são insuficientes para as importações feitas pelo país.
Economistas calculam que o mercado paralelo do dólar está sendo usado para honrar entre 40 e 45% das importações, o que se traduz por uma inflação galopante, que supera os 30% nos últimos doze meses.
"Se os empresários não têm dólares para importar, não haverá outro remédio senão importar menos e isto trará desabastecimento", previu nesta sexta-feira Pedro Palma, da Academia de Ciências Econômicas.
Chávez advertiu que vai agir com rigor contra a especulação: "Eles dizem que não há produtos (...) Sigam com seu plano que vamos seguir com o nosso. Nada ou ninguém vai me deter".