Jornal Correio Braziliense

Economia

Brasileiros vão às compras, principalmente de TVs de LCD para a Copa do Mundo

A corrida desenfreada dos brasileiros às lojas nas principais capitais do país provocou um apagão na Zona Franca de Manaus (AM), principal polo produtor de eletrônicos do país. O porto e o aeroporto da capital não têm mais condições de suportar a importação de insumos e o resultado é a paralisação de até 70% da linha de produção de fábricas da região. Embora o comércio ainda consiga sustentar as vendas por causa dos estoques montados para fazer frente ao aquecimento das vendas no período da Copa do Mundo de futebol, algumas das grandes lojas já admitem a falta de aparelhos nas prateleiras. Esta situação pode levar, inclusive, ao aumento de preços.

O problema ocorre, principalmente, com a venda dos televisores de LCD. O cidadão precisa garimpar no comércio para encontrar determinados modelos ou mesmo se sujeitar a prazos largos para receber o produto. Em alguns casos, a tão sonhada TV de alta definição só será entregue depois do Mundial da África do Sul. ;Em hipótese alguma, aceitaria ficar sem minha televisão ou esperar para depois dos Jogos;, afirmou Paulo César da Silva Júnior, 23 anos, que acertava a compra de um modelo LCD ainda disponível na loja da Ricardo Eletro do Conjunto Nacional. Mas o gerente da loja, Eduardo Correa, admitiu que a empresa já enfrenta dificuldades em garantir a entrega de alguns modelos que contam com mais recursos tecnológicos e resoluções mais avançadas.

Para atender a demanda, a indústria instalada na Zona Franca terá que superar os problemas com infraestrutura. Com base em informações do Sindicato das Indústrias de Elétricos, Eletrônicos e Similares (Sinaees) e da balança comercial brasileira, as empresas teriam pago, no primeiro quadrimestre do ano, US$ 100 milhões aos portos e aos aeroportos em armazenagem devido à demora no descarregamento de navios e no desembaraço de mercadorias pela Receita Federal.

Aquecimento
A demanda do brasileiro por eletrônicos está tão intensa neste início de ano que a produção de diversos itens mais que dobrou na capital amazonense ante 2009. É o caso das peças para refrigeradores (494,9% de aumento), para ar-condicionado (281,3%) e para aparelhos de rádio (296,8%). Mas para bancar esse aumento é preciso importar matérias-primas e insumos. ;Os portos e os aeroportos de Manaus não estão atendendo a demanda. O apagão só não aconteceu no ano passado por causa da crise financeira, que diminuiu a produção e o consumo;, afirmou Wilson Périco, presidente do Sinaees.

A Empresa Brasileira de Infraestrutura Aeroportuária (Infraero) informou que já está trabalhando para resolver os problemas. Disse ter conseguido reduzir o tempo de espera de 10 dias para quatro, o que, em breve, deve normalizar as operações. A Sociedade de Navegação Postos e Hidrovias de Manaus (SNPH) foi procurada pelo Correio, mas não respondeu até o fechamento desta edição. A Receita Federal, por meio da Superintendência Regional da 2; Região, afirmou que já foi realizado concurso público para as aduanas e que o problema de falta de fiscais será solucionado assim que terminar o curso de formação dos novos servidores.

Preocupados com a possível falta de televisores justamente no momento da Copa do Mundo, os consumidores começaram uma corrida às compras. No início da noite de ontem, o maior movimento nas lojas de eletrodomésticos de dois dos principais shopping de Brasília era justamente no do setor de TVs. O casal Montesquieu Vieira, 31 anos, e Juliana Vieira, 29, estavam dispostos a comprar ;um dos modelos maiores e mais modernos disponíveis;. Os dois percorreram as lojas de eletrodomésticos nos shoppings do Plano Piloto procurando a melhor relação entre o custo do equipamento e os benefícios tecnológicos oferecidos pelo aparelho. Optaram por uma TV de 55 polegadas, uma das poucas disponíveis na loja naquele momento.

O gerente da Ponto Frio do Conjunto Nacional, Odair José Palmeira, assegurou que não enfrenta escassez de produtos. Isso porque os estoques disponíveis serão suficientes para atender a demanda dos potenciais compradores. ;Entregamos os televisores em cinco dias ou, dependendo do modelo, em 10 dias. Não houve qualquer alteração nos últimos meses;, afirmou.

Inflação sobe e não dá trégua

Deco Bancillon


Enquanto os brasileiros estão ávidos por gastar, a inflação não dá trégua. O Índice de Preços ao Consumidor ;15 (IPCA-15), prévia do índice oficial, registrou variação de 0,63% em maio. O resultado é 0,15 ponto percentualmaior que o de abril, e foi influenciado, principalmente, pelo reajuste nos produtos farmacêuticos. Os remédios ficaram 4,64% mais caros no fim de março e essa alta só começa a ser captada agora pelo indicador. A esperança do Banco Central, para que os preços não acelerem ainda mais, está na tragédia grega. Se a crise europeia se intensificar, as exportações brasileiras deverão ser direcionadas para o mercado doméstico, aumentando a oferta interna e reduzindo o custo de vida por aqui.

Esse fenômeno já começa a acontecer nas matérias-primas, cujas cotações internacionais estão caindo. Mas economistas alertam que a redução nos preços das commodities teria de ser expressiva e contínua a ponto de se traduzir em alívio no bolso do consumidor. ;A grande pergunta que temos nos feito agora é até que ponto as matérias-primas vão perder valor. Porque, para que esse movimento tenha algum efeito na redução das pressões inflacionárias, é preciso que a queda seja mais forte do que a desvalorização do real frente ao dólar;, disse o economista-chefe do Banco ABC Brasil, Luís Otávio de Souza Leal. ;Ainda não está claro o que vai acontecer;, avaliou.

Especulação
A explosão de uma onda de desconfiança nos mercados financeiros tem se refletido dia a dia no preço das commodities. Ontem, o barril do petróleo fechou a sessão cotado a US$ 64,24, o valor mais baixo desde 30 de julho de 2009, quando o derivado marcou US$ 62,76. Durante boa parte do pregão, o produto chegou a perder mais de 8%. No fim do dia, porém, o tombo registrado foi de 2,66%.

;Quando se tem uma oscilação desse nível em uma commodity, significa que não é apenas preocupação com o produto, mas também um pouco de especulação por parte dos investidores;, observou o economista Gustavo Gazaneu, gestor de fundo da SLW Asset. Segundo afirmou, a perda de valor das matérias-primas se deve, em parte, a um ataque dos hedge funds (fundos especulativos) a esse tipo de aplicação. ;Quando uma commodity oscila por volta de 10% em um único dia só pode ser por pura especulação;, arrematou.

Esse movimento tem influenciado fortemente o mercado, que tem registrado quedas expressivas diante do risco de aprofundamento da crise do euro. Desde o início de maio, o CRB ;principal índice que mede a cotação de um conjunto de commodities; acumula perdas de 10%. O economista Carlos Coradi, presidente da EFC Consultores, acredita que, mais do que um alívio para a inflação, a desvalorização das matérias-primas tende a surtir efeito devastador na balança comercial. ;Como deveremos exportar menos esse tipo de produto, quer dizer que o saldo comercial deve ficar mais baixo;, disse. ;Além disso, nosso balanço de pagamentos (relação entre o que sai e entra em divisas financeiras no país) vai muito mal. Podemos fechar o ano com um deficit de US$ 40 bilhões;, contou.


O número
AUMENTO

O IPCA-15 registrou alta de 0,63%
em maio, 0,15 ponto percentual acima do de abril