Jornal Correio Braziliense

Economia

Fracasso do euro teria consequências incalculáveis, diz Merkel

A chanceler alemã, Angela Merkel, pediu nesta quarta-feira (19/5) a adoção de medidas duras contra o endividamento na Europa, seguindo o modelo alemão, e advertiu que, caso contrário, se o euro fracassar, as consequências serão "incalculáveis".

"O euro está em perigo, e se não fizermos frente a esse perigo, as consequências serão incalculáveis na Europa" e inclusive fora do continente, declarou a chanceler conservadora. "Se o euro fracassar, a Europa fracassa", completou.

A chanceler defendeu diante dos deputados da Bundestag (Câmara Baixa do Parlamento alemão) o projeto de lei sobre a participação alemã no enorme plano europeu de apoio à zona do euro.

A primeira economia do continente, a Alemanha, contribuirá com até 150 bilhões de euros no vasto dispositivo acordado por UE e Fundo Monetário Internacional (FMI) para socorrer os países da zona do euro mais endividados e com dificuldades para recorrer ao mercado de crédito a taxas razoáveis. O plano soma, no total, 750 bilhões de euros.

"Quero que a Europa comprometa-se com uma nova cultura da estabilidade", declarou a chanceler, que colocou seu país como modelo: "nossa cultura de estabilidade deu provas de sobra".

"As regras não devem orientar-se com base nos mais frágeis, e sim com base nos mais fortes", afirmou, fazendo uma dura advertência aos demais membros da zona do euro, para que sigam o modelo alemão.

Com um déficit público previsto em 6% do PIB este ano, a Alemanha infringe, contudo, o Pacto de Estabilidade e Crescimento europeu, que fixa o limite de 3% para o déficit dos países na zona do euro.

"Nós também vivemos do crédito", reconheceu Merkel. No entanto, na comparação com o déficit de outros países como Grécia, Portugal e Espanha (cujos rombos são de 13,3%, 9,4% e 11,2% do PIB, respectivamente, em 2009), Berlim aparece como o melhor aluno da classe.

Merkel afirmou que seu país "estipulou na Constituição um limite ao endividamento", uma medida que entrará em vigor no ano que vem e que Berlim quer que seja adotada por outros países da zona do euro.

Para os países instáveis que insistem em "viver acima de seus meios", Merkel defendeu medidas duras: limitar seu acesso a fundos estruturais europeus, privá-los do direito a voto nas instituições europeias e deixá-los quebrar, preparando antes um "procedimento ordenado".

O ministro das Finanças alemão, Wolfgang Sch;uble, apresentará todas essas propostas a seus colegas europeus na sexta-feira em Bruxelas.

A Bundestag, onde a coalizão liberal-conservadora de governo tem maioria, poderá aprovar o projeto de lei nesta semana. O texto, apesar de prever um montante muito mais elevado que o previsto para ajudar a Grécia, provoca menos resistência na opinião pública alemã.

Por outro lado, a Alemanha poderá propor aos países europeus que confiem ao Banco Central Europeu (BCE) ou a institutos independentes o exame prévio de seus orçamentos nacionais, segundo um documento de trabalho citado nesta quarta-feira pelo jornal econômico Handelsblatt.

A Comissão Europeia já propôs há uma semana que, a partir de 2011, os orçamentos dos países da zona do euro sejam submetidos a um exame coletivo europeu, antes de serem adotados pelos parlamentos nacionais correspondentes.

A iniciativa está sendo estudada por ministros das Finanças da zona do euro, apesar das diversas críticas que a ideia já levantou no continente.