Os ministros europeus da Agricultura demonstraram nesta segunda-feira (17/5), em Bruxelas, que estão divididos quanto à retomada das negociações comerciais entre União Europeia e Mercosul, horas antes de o retorno das conversas, bloqueadas há seis anos, ser oficializado em Madri.
O ministro francês Bruno Le Maire disse que seu país "opõe-se à retomada das negociações, que se traduzirão necessariamente em novas concessões em detrimento dos agricultores franceses e europeus".
"A iniciativa não é razoável", insistiu Le Maire, "em um momento em que os agricultores (europeus) atravessam uma das crises mais graves dos últimos 30 anos".
Na semana passada, a França ganhou o apoio de outros nove países-membros do bloco para assinar um texto que critica a iniciativa de retomar as negociações com o Mercosul (Argentina, Brasil, Uruguai e Paraguai).
Os dez países que assinaram o documento acreditam ser "inaceitável" fazer mais concessões agrícolas, depois das já feitas pela Comissão Europeia em 2008 durante a Rodada de Doha para a liberalização do comércio mundial.
A Comissão Europeia, que dispõe desde 1999 de um mandato dos países da UE para negociar com o Mercosul um Acordo de Associação, anunciou no início do mês o relançamento das negociações, suspensas desde 2004.
A França protestou imediatamente, afirmando que essas negociações devem ser mantidas na Rodada de Doha e que ir além poderia colocar em perigo os subsídios europeus contemplados na Política Agrícola Comum (PAC), da qual o país é o principal beneficiado.
Outros nove países - Áustria, Polônia, Romênia, Chipre, Irlanda, Finlândia, Grécia, Hungria e Luxemburgo - concordaram.
A ministra espanhola Elena Espinosa, cujo país exerce a presidência rotativa da UE e é o impulsionador da retomada dos contatos, disse que as negociações são "muito importantes".
Na última quinta-feira, Madri disse que "não entende" a oposição da França e dos outro nove países da UE ao relançamento das conversas.
"Não nos parece razoável pressupor que o resultado dessa negociação irá contra os interesses de algum Estado-membro (da UE)", declarou à AFP Secretário de Estado da Espanha para a América Latina, Juan Pablo de Laiglesia.
A ministra alemã da Agricultura, Ilse Aigner, destacou que as negociações com o Mercosul devem ser retomadas justamente porque as conversas da Rodada de Doha estão paradas.
Para a ministra britânica Caroline Spelman, um acordo com o Mercosul poderá ser benéfico, ainda que se tenha de "prestar atenção" nas consequências para o setor de carnes.
O comissário europeu da Agricultura, Dacian Ciolos, defendeu também a retomada das negociações, dizendo que esta responde ao "interesse econômico da UE".
Segundo um funcionário europeu, trata-se "de longe, do projeto de acordo comercial mais importante da UE na América Latina". Além disso, segundo ele, o Mercosul "é um bloco relativamente bem protegido, com tarifas alfandegárias elevadas, que não tem nenhum acordo comercial de preferência com nenhum outro sócio".
O problema é que o bloco sul-americano tem entre seus membros "os produtores agrícolas mais competitivos do planeta" e é especializado "nos mesmos produtos que a UE", reconhece o funcionário.