Produtores, publicitários, advogados, administradores. Todos unidos em um mesmo espaço, atuando independentemente, mas com o mesmo objetivo: não deixar que a liberdade profissional os isole do mercado. Em vez de trabalhar em casa ou sozinhos em pequenos escritórios, esses profissionais se reúnem para ampliar a rede de relacionamentos a baixo custo.
Essa é a proposta do coworking, tendência que já percorre mais de 12 países do mundo e vem criando um novo modelo de trabalho. Comum em países como Nova York, Londres e Madrid, a proposta já chegou ao Brasil e tem despertado o interesse de profissionais autônomos. Segundo Caio Infante, diretor Comercial do portal Trabalhando.com.br, pela característica dos brasileiros, a ideia veio para ficar. ;A maior parte deles empreende hoje por oportunidade e por vontade de ter o próprio negócio, não mais por necessidade de sobrevivência;, destaca.
A observação do diretor foi comprovada recentemente por um estudo da Global Entrepreneurship Monitor (GEM). Segundo o levantamento, 53,1% dos brasileiros montaram sua empresa pela oportunidade. ;Não vejo outro caminho senão o crescimento desse modelo de ambiente de trabalho como uma alternativa inicial de ampliar o negócio e a interação;, avalia Caio Infante.
Gustavo Serafim testou o modelo por uma inquietação antiga. A rotina de uma empresa, com chefe e diversas limitações, já não enchia mais os olhos do empresário cultural. Há um ano, ele tomou a decisão de ter seu espaço e desenvolver as próprias ideias. Foi então que surgiu, em São Paulo, a Faina Moz, empresa de gestão de processos culturais que funciona a partir do modelo coworking. ;Já conhecia a iniciativa e a proposta, e achei que era o ideal para minha atividade;, avalia.
O baixo custo atraiu a atenção do empresário de 30 anos, mas foi a possibilidade de interação com outros profissionais que o fez apostar na mudança. ;É rico trabalhar com pessoas de diversas áreas. Isso proporciona a troca de ideias e ajuda a ver uma situação de diversas formas;, avalia Gustavo. O empresário conta que uma vez, enquanto desenvolvia um trabalho para uma banda, precisou criar uma ação publicitária. Os vizinhos entraram no projeto. ;Como não tenho muito conhecimento nesse ramo, convidei uma agência de publicidade que atua aqui no espaço para trabalharmos juntos. Estar em um local como o coworking é receber informação e conhecer novidades a todo tempo. E essa interação ajuda na captação de novos trabalhos.;
A capital do país não fica para trás com relação à proposta do coworking. Mas aqui a ideia surgiu de forma diferente, com o nome de condomínio. A artista plástica Mariana Dap dividia uma casa na Vila Planalto com outros profissionais, onde eles trabalhavam em um mesmo espaço para dividir as despesas. ;Era um ateliê coletivo, onde cada artista tinha o seu espaço;, lembra.
A proposta da empresária de 34 anos tomou forma. Desde janeiro, existe o Pocket Office, um escritório compartilhado montado na Asa Norte. ;Aqui, a intenção é que o profissional monte seu local de trabalho de maneira livre;, diz. Um espaço no coworking brasiliense custa de R$ 468 a R$ 990, dependendo do tamanho ocupado, que varia de 6 a 8m;. O valor inclui despesas com aluguel, internet, faxina, água, luz e sistema de segurança.
Foram todas essas vantagens que chamaram a atenção do webdesigner Tayshiro Kudo. ;Analisei outros locais e só o aluguel do espaço não ficaria por menos de R$ 1 mil;, lembra. O jovem de 23 anos paga R$ 642 pelo local de trabalho. E já fez parceria com os vizinhos. Tayshiro desenvolveu sites para os clientes de Mariana Dap.;O coworking tem a ver com relacionamento e ainda tenho a chance de deixar o espaço do meu jeito;, elogia. Jovem, o webdesigner também acredita que o modelo é ideal para quem está começando.
Para Caio Infante, do Trabalhando.com.br, a prosposta do coworking é um incentivo aos pequenos empresários, porém não é a solução econômica para quem espera encontrar pessoas sempre dispostas a ouvir e compartilhar ideias, substituindo funcionários, comitês e outras formalidades do mundo corporativo. ;Quem está nesse ambiente de trabalho está para produzir e ir atrás de seu próprio sucesso;, opina. O diretor comercial alerta, ainda, sobre a necessidade de, em algum momento, voltar às formas tradicionais de trabalho. ;Quando uma ideia sai do papel e vira realmente um negócio com metas, números e alguns funcionários, a necessidade de ter um escritório centralizado volta a ser uma necessidade.;