Depois de atingir Grécia, Portugal, Espanha e Reino Unido, a onda de austeridade fiscal chegou ontem à Itália. O governo italiano anunciou ontem que vai fazer um esforço maior do que o previsto inicialmente para cortar despesas, reduzir o rombo nas contas públicas e diminuir o endividamento. As medidas, que ainda vão ser detalhadas pela equipe econômica, incluem o congelamento dos salários dos servidores públicos por um ano, a redução das verbas disponíveis para os ministérios e um programa de luta contra a sonegação tributária. A intenção é economizar US$ 25 bilhões, o equivalente a 1,6% do Produto Interno Bruto (PIB).
O pacote vai significar um ajuste adicional de US$ 5 bilhões nas contas públicas ; até agora, a previsão era de US$ 20 bilhões (1,2% do PIB). Por enquanto, o governo descartou um aumento dos tributos federais para incrementar a arrecadação. Mas, para mostrar firmeza, o primeiro-ministro Silvio Berlusconi e o ministro da Economia, Giulio Tremonti, se recusaram a aumentar os deficits orçamentários na área da saúde de quatro regiões do país, exigindo a elevação de impostos locais. ;As medidas adotadas por Portugal e Espanha aumentaram a pressão sobre a Itália;, avaliou o economista-chefe do banco UniCredit, Marco Valli.
Franco Bruni, professor de Política Monetária da Universidade Bocconi de Milão, acredita que o governo não tinha outra saída a não ser cortar gastos. ;Não há opção, os deficits são insustentáveis em todos os países. O mercado conheceu momentos de ataques especulativos excessivos (contra os países mais frágeis da Zona do Euro), mas não faz mais que revelar uma situação objetiva;, disse. O buraco nas contas italianas foi de 5,3% do PIB em 2009, menor do que os 9,4% nas portuguesas e os 11,2% nas espanholas. Apesar da situação melhor, o conservador Tremonti quer dar mostra do compromisso do país em apertar um pouco mais o cinto. A dívida pública está em 115,8% do PIB.
Portugal, Itália, Irlanda, Grécia e Espanha são os países da Zona do Euro com pior situação fiscal. Eles ficaram conhecidos no mercado financeiro pelo acrônimo Piigs, que lembra pejorativamente a palavra ;porco; em inglês. Deles, só os irlandeses ainda não apresentaram medidas de ajuste. Um a um, os governos vêm adotando pacotes de austeridade para se credenciar a receber recursos do fundo de 750 bilhões de euros (US$ 941 bilhões) estruturado pela Europa e pelo Fundo Monetário Internacional (FMI).
Na quarta-feira, o primeiro-ministro espanhol, José Luis Zapatero, apresentou um plano que inclui o corte dos salários do funcionalismo público e o congelamento das pensões. Um dia depois, foi a vez de o primeiro-ministro português, José Sócrates, anunciar a alta de impostos e a redução dos salários dos titulares de cargos políticos e dos servidores públicos, por exemplo.
TURISMO EM QUEDA
Representantes do setor de turismo na Grécia preveem que suas receitas caiam entre 7% e 9% neste ano, tornando ainda mais difícil para o país endividado sair da crise que vem abalando os mercados mundiais. ;Nós teremos uma grande queda nas receitas porque os preços caíram;, disse Andreas Andreadis, chefe da Federação Hoteleira Helênica e vice-presidente da Tourism Enterprises. O turismo, que representa quase um quinto do Produto Interno Bruto (PIB, a soma das riquezas geradas no país), é o principal impulso na atividade econômica grega. País de renda média que ascendeu à condição de privilegiado ao entrar na Zona do Euro, a Grécia tem um PIB de 240 bilhões de euros (US$ 301 bilhões). A situação do setor é crucial para que os gregos superem a recessão, estimada pelo próprio governo em 4% neste ano.