Jornal Correio Braziliense

Economia

A despeito de boas expectativas do comércio, vendas começam a desacelerar

Com o arrocho monetário iniciado pelo Banco Central e o alto endividamento do brasileiro, o ritmo de vendas do comércio começa a desacelerar. De acordo com levantamento do Serviço de Proteção ao Crédito (SPC), o recuo em abril foi de 8,95% ante o mês anterior. Resultado que reflete um brasileiro mais cauteloso quanto a ampliação de dívidas, mas que ainda fará de 2010 um dos melhores para os comerciantes. No acumulado do ano, o varejo acumula alta de 7,75% e carrega expectativas de fazer avançar fortemente esse saldo positivo. Para conseguir tal desempenho, os empresários apostam na geração recorde de postos de trabalho que o país vem registrando e no avanço da renda.

Um dos responsáveis pelo arrefecimento foi o fim da isenção do Imposto sobre Produto Industrializado (IPI). A fim de aproveitar os últimos dias de incentivo para aquisição de automóveis e produtos de linha branca, o consumidor foi às lojas. Com parcelamentos elevados, o brasileiro teve de optar por moderação no útimo mês e reduziu a procura por financiamentos. Segundo a Serasa Experian, a demanda por crédito caiu 6% e foi uma das responsáveis por esse recuo na atividade do varejo.

"Além de tudo isso, esses números já significam uma desaceleração em função de juros mais altos, mas ainda não é algo muito forte", explicou o presidente da Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL), Roque Pellizzaro. "Com isso, o endividamento e o crescimento da oferta de crédito vão ocorrer em ritmo mais moderado. Os juros podem até ter ficado mais caros em abril, mas vão começar a apertar realmente a partir de junho ou julho", disse o gerente de indicadores econômicos da Serasa Experian, Luiz Rabi.

Aperto esse que em abril chegou brando ao bolso do consumidor. Segundo a Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Adminsitração e Contabilidade (Anefac), a taxa média para as pessoas físicas ficou 0,74% maior no mês. "Essa alta veio suave e ainda cabe no orçamento do trabalhador. O comprometimento da renda nesse ambiente onde os juros estão subindo realmente está diminuiu o ritmo de consumo, mas não fará ele parar. Teremos um bom ano para a economia", ponderou Rabi. Entre as modalidades de crédito que encareceram, o empréstimo pessoal em financeira foi o que mais avaçou, com alta de 0,09 ponto percentual (veja quadro).

Céu de brigadeiro

A despeito desse cenário que parece um banho de água fria no comércio, o crescimento não está comprometido. Nos dados do SPC, a comparação entre abril de 2010 e de 2009 faz os empresários caminharem em um céu de brigadeiro. O embate de números registrou elevação de 8,67% nas vendas, recuo de 3,93% na inadimplência e a quantidade de pessoas que limparam o nome aumentou 4,92%. "O comércio caminha para um grande ano. O brasil vive um excelente momento e a dúvida é somente se a indústria vai acompanhar esse processo", afirmou Roque Pellizzaro.