Depois de dias seguidos de agonia e pânico, o mercado financeiro de todo o mundo mergulhou ontem na euforia, apoiado no socorro de 750 bilhões de euros (R$ 1,7 trilhão) que a União Europeia e o Fundo Monetário Internacional (FMI) darão aos países em dificuldades na Zona do Euro ; em especial, à Grécia, à Espanha e a Portugal. O medo de que o euro, a moeda comum da região, entrasse em colapso amainou e a resposta veio por meio de altas espetaculares na principais bolsas de valores. A de Madri avançou 14,43%. Em Lisboa, o salto foi de 10,73% e, em Atenas, de 9,13%. Nos mercados de Londres, de Frankfurt e de Paris, as altas foram, respectivamente, de 5,16%, 5,30% e 9,66%. "Finalmente, pudemos respirar", disse um operador de um grande banco estrangeiro.
Na Bolsa de Valores de São Paulo (BM), a reação não foi diferente. Desde a abertura das negociações, o pregão apontou para cima, recuperando parte dos prejuízos acumulados na semana passada. O Ibovespa, principal índice de lucratividade do pregão paulista, encerrou a segunda-feira nos 65.452 pontos, com valorização de 4,11%, a maior desde 29 de outubro de 2009. Os papéis de maior liquidez tiveram comportamento diferenciado. Enquanto os da Vale subiram mais de 4%, os da Petrobras não avançaram nem 2%. Nos Estados Unidos, o índice Dow Jones, da Bolsa de Nova York, cravou alta de 3,90%. Na Nasdaq, a bolsa eletrônica, o salto foi de 4,81%.
Dólar desaba
Apesar do alívio, a expectativa é grande. O nervosismo só tenderá a se dissipar por completo quando houver o desembolso emergencial de 60 bilhões de euros para tirar os países mais problemáticos do buraco. Mas, para mostrar que o pacote de ajuda é para valer, os bancos centrais da Zona do Euro começaram ontem a comprar bônus emitidos por Grécia, Espanha e Portugal como forma de recuperar os preços desses títulos. A ação foi coordenada pelo Banco Central Europeu (BCE), que ainda participou, com as instituições do Canadá, da Inglaterra, dos EUA e da Suíça, da reativação das operações temporárias de troca (swap) de moedas por dólar para garantir a oferta de recursos nos mercados.
Como consequência, o euro parou de derreter, cotado a US$ 1,276, com alta de 0,3% ante sexta-feira. No Brasil, depois de subir 6,44% na semana passada, o dólar recuou 4,11% ; o maior tombo desde 24 de novembro de 2008 ; negociado a R$ 1,773, na mínima do dia. A baixa da moeda americana só não foi maior porque, perto do encerramento dos negócios, o Banco Central interveio, retirando o excesso de recursos que estava circulando pelo mercado. Para o governo brasileiro, não interessa ver o dólar abaixo de R$ 1,80, para não prejudicar as exportações.
Não à especulação
Na Europa, a maior preocupação foi pôr fim ao ataque especulativo contra o euro. ;Acho que foi o começo do fim desse movimento;, disse, em Bruxelas, o ministro Miguel Angel Moratinos, de Assuntos Exteriores da
Espanha, país que exerce a presidência interina da União Europeia. ;O acordo, de 750 bilhões de euros, garantirá o fracasso de qualquer tentativa de enfraquecer a estabilidade do euro;, assegurou o presidente da Comissão Europeia, José Manuel Barroso.
As declarações fortes, no entanto, não dissiparam as dúvidas se a Europa conseguirá afastar os temores de uma onda de calote nos países da Zona do Euro. A própria Alemanha conteve o entusiasmo. ;O fundo aprovado vai reforçar e proteger o euro, mas devemos atacar os problemas pela raiz e fortalecer a disciplina fiscal;, advertiu a chanceler Angela Merkel.
A agência de classificação de risco Moody;s indicou que continua pensando em voltar a rebaixar a nota da dívida soberana da Grécia, depois de tê-la degradado em dezembro.
Alguns analistas consideram que tempos difíceis ainda esperam a Zona Euro. ;Mais crises virão para a Grécia, Portugal, Espanha, ou até para Irlanda e Itália, porque o euro precisa ser apoiado por um governo central forte;, disse Peter Morici, professor da Universidade de Maryland, em Washington. ;A única maneira de sair desta crise de dívida soberana é com inflação, com a reestruturação da dívida por meio da quebra e da suspensão do euro em vários países;, previu Stefano Harney, da Universidade de Londres.
POUPANÇA PERDE PARA O IPCA
; Quem aplicou na poupança nos quatro primeiros meses de 2010 teve retorno menor do que a inflação. Entre janeiro e abril, a aplicação rendeu 2,10%, enquanto que o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) subiu 2,65%. No confronto direto, a poupança perdeu 0,53%, o que quer dizer que o investimento não rendeu ganho real ao poupador. Os números foram divulgados ontem pela consultoria Economática. Segundo a Economática, esta é a terceira vez que a aplicação perde para a inflação. As outras duas foram nos primeiros quatro meses de 2003 e no segundo quadrimestre de 2008, período em que o forte crescimento econômico do país puxou para cima os preços dos produtos e serviços.