Para preservar o euro e evitar uma onde de calotes pela Europa, os líderes do continente acertaram ontem a criação de um gigantesco fundo de estabilização, cujos recursos deverão ser aplicados para intervir no mercado financeiro a partir desta semana. Os ministros de Finanças dos países da Zona do Euro concordaram, durante reunião em Bruxelas (Bélgica), em aprovar um megafundo de 750 bilhões de euros a fim de formar a barreira de proteção para a economia europeia.
Essa montanha de dinheiro, equivalente a R$ 1,78 trilhão, servirá como base de capital para pedidos de empréstimos às economias fragilizadas da União Europeia. As autoridades econômicas poderão contar com 500 bilhões de euros, mais 250 bilhões em verbas do Fundo Monetário Internacional (FMI), para enfrentar o ataque especulativo daqueles a que chamaram ;lobos; do mercado financeiro.
Os recursos do megafundo serão garantidos pelos 27 países membros da União Europeia. Caberá ao FMI definir condições para os empréstimos que vierem a ser concedidos a uma nação europeia que estiver com dificuldades para honrar suas dívidas interna e externa. Até a semana passada, rumores apontavam, nessa situação, Portugal, Espanha e Irlanda, que acumulam enormes rombos em suas contas públicas. Existem especulações de que esses países já estariam em negociações com o próprio FMI.
Ontem, o Fundo voltou a desmentir essa informação, logo depois da aprovação oficial do empréstimo de 30 bilhões de euros para a Grécia, que corresponde à parte do organismo multilateral no programa de resgate para o governo grego. Para receber os recursos, a administração do primeiro-ministro George Papandreou terá de aceitar condições rigorosas, que incluem uma combinação de cortes de gastos e aumentos de impostos.
Separação
Um dos objetivos das autoridades europeias é separar o mecanismo de intervenção nos mercados, voltado para reduzir o nervosismo e a alta oscilação nos mercados, dos problemas com a gestão fiscal dos governos. Por isso, a Comissão Europeia vai propor a criação de um instrumento adicional de empréstimos intergovernamentais apenas para países da Zona do Euro. Ewald Nowotny, membro do Conselho Executivo do Banco Central Europeu (BCE), deixou claro que a instituição pode ajudar países endividados, mas sem financiar diretamente os rombos nas contas dos países. ;O Banco Central Europeu também pode ajudar, mas na área monetária, não através de financiamentos de deficits orçamentários;, afirmou em um programa ao vivo na rede de televisão estatal austríaca ORF.
A operação para salvar a moeda europeia colocou as principais lideranças do mundo em negociações semelhantes a que se viram depois das duas últimas grandes guerras mundiais. Ontem, o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, cobrou da chanceler alemã Angela Merkel medidas enérgicas da União Europeia para tranquilizar os mercados e aplacar a crise da dívida. Ministros e líderes europeus voltaram a alertar para as repercussões da crise. ;Agora, vemos comportamentos de uma matilha de lobos e se nós não pararmos isso eles vão estraçalhar países mais fracos;, disse o ministro sueco da Economia, Andares Boro.
Analistas de mercado receberam as medidas com elogios, mas continuavam desconfiados do seu alcance. Alguns economistas afirmaram que elas vão curar os sintomas, mas não a doença. ;Os governos finalmente parecem ter se levantado ao desafio trazido pela crise de dívida soberana;, afirmou o Morgan Stanley por meio de nota a clientes. No entanto, o banco alertou para um possível calote: ;Mas, como as medidas tomadas anteriormente para benefício da Grécia, um fundo de estabilização está apenas comprando tempo para os devedores em dificuldades;, disse o banco.
O número
30 Bilhões de euros
Crédito liberado ontem pelo FMI para ajudar a Grécia e combater ataques especulativos