Jornal Correio Braziliense

Economia

Com o mercado de trabalho em expansão e renda maior, brasileiro ignora taxa de juros e decide gastar mais no Dia das Mães

O brasileiro ignorou a alta de juros iniciada pelo Banco Central e a forte inflação que corroi os orçamentos neste primeiro semestre e decidiu comprar como nunca até o próximo domingo, quando será celebrado o Dia das Mães. Segundo pesquisa da Fundação Getulio Vargas (FGV), a data será recorde em quantidade de consumidores dispondo de mais recursos esse ano para os presentes: 80,4% dos entrevistados pretendem gastar mais ou pelo menos a mesma quantidade que em 2009. O indicador da intenção de gastos e do otimismo para o período também bateu o pico histórico ao chegar aos 94,8 pontos.

Tamanha gastança é patrocinada, de acordo com analistas, pelo bom desempenho do mercado de trabalho e pela expansão da renda. As famílias estão com mais integrantes empregados. ;Esse é o maior percentual de intenção de compras para o Dia das Mães. Todos estão satisfeitos com a própria situação financeira;, explicou a economista da FGV Viviane Bittencourt. ;Mesmo com esse cenário de juros em elevação, o mercado de trabalho aquecido está proporcionando todo esse otimismo. Muito diferente do ano passado, quando o consumidor sofreu um baque grande com a crise e estava muito inseguro;, concluiu.

Temores que para a professora de educação física Márcia da Costa Martins, 46 anos, são parte do passado. ;Os juros não chegam a assustar e as coisas estão até mais em conta que em 2009. Acredito que essas taxas mais altas ainda não foram repassadas para o consumidor;, afirmou. Ao lado da mãe, a pensionista Célia Azeredo, 69, Márcia pesquisava os preços de aparelhos celulares, roupas e calçados. Ambas pretendiam realizar gastos superiores aos do último Dia das Mães. ;Esse ano vamos ganhar presentes bem melhores;, brincou a pensionista.

A despeito da crença de alguns consumidores de que os produtos estão mais baratos este ano, o levantamento da FGV revela que de dez produtos pesquisados, apenas três registram recuos. E outros três tiveram alta superior à inflação dos últimos 12 meses. ;Os preços subiram, mas estão até dentro do razoável. Os juros é que estão um pouco pesados, mas não chegam a assustar. Comprei um computador em 10 vezes;, contou o pintor Adelson Rodrigues, 53. Ele escolheu o produto com o filho Leonardo, 17, que, ao ser questionado sobre o destino da compra, afirmou: ;O computador é presente do Dias das Mães;.

Preferências
Entre os itens preferidos, vestuário e acessórios lideram com 47,7%. Perfumaria e cosméticos figuram em segundo lugar, com 12,1%, produtos que são seguidos de perto no ranking dos presentes por eletrodomésticos e eletrônicos, com 11,6%.

Para a professora Juliana Guimarães, calçado ainda é a melhor opção. ;Comprei um sapato para minha mãe e gastei cerca de R$ 50;, contou. Valor que está dentro do preço médio que a maioria dos brasileiros irão despender neste ano, segundo a pesquisa da FGV. Em todas as faixas salariais, a expectativa em relação aos gastos aumentou frente a 2009. As maiores expansões ocorreram principalmente entre os brasileiros de maior poder aquisitivo.

Para os que ganham ao redor de R$ 9 mil, as intenções de quase 50% deles é dar presentes acima dos R$ 100. Já para os brasileiros com rendimentos de até R$ 2,1 mil, esse percentual é bem menor, 27,8%.

Entrevista com Viviane Bittencourt, economista da FGV