Em todos os lugares e profissões, ser mãe é desafiador. O tempo é o maior inimigo das mulheres que não se privam de nenhum dos papéis que foram acumulando ao longo do tempo, independentemente da classe social em que estão. A dona de casa Gracilene Alves do Nascimento, 35 anos, está inscrita no Programa Bolsa Família há meia década. Não fosse a ajuda governamental, os quase R$ 600 embolsados todos os meses pelo marido, Edilson Souza, 35, como catador de lixo, não seriam suficientes para sustentar os seis filhos. Equilibrar o orçamento apertado é uma tarefa árdua todos os meses. ;É muita criança e pouco dinheiro. Se fosse possível, uma renda de uns R$ 1 mil seria suficiente para realizarmos tudo o que queremos;, diz.
Grávida pela sétima vez, Gracilene afirma não se arrepender da quantidade de filhos, alimentados por meio de centavos contados diariamente. ;Gosto de casa cheia. Somos muito unidos;, assinala. É a ajuda do governo que garante às crianças as roupas, os sapatos, a comida e até o lazer. Só não é suficiente para que o casal possa buscar empregos melhores e deixar sob a tutela de alguém os filhos e a casa humilde onde moram, na Estrutural, uma das áreas mais pobres da capital do país.
Muita disciplina
A fórmula para controlar o dia a dia e curtir o sucesso e um trabalho bem feito exige disciplina, na visão de Fernanda Pasquarelli, 38 anos, diretora-executiva do banco suíço UBS. ;Temos tantos papéis diferentes ao longo do dia, que manter o equilíbrio não é fácil. Mas sempre damos um jeito, ainda que, muitas vezes, deixamos escapar alguma coisa;, comenta. Moradora de São Paulo, não bastasse todos os afazeres de casa, os cuidados com os filhos Laura, 5, Lorenzo, 1 ano e meio, e o enteado Gabriel, 13, e a administração das fortunas de seus clientes, Fernanda ainda tem que lidar com a logística para estar onde precisa na hora certa.
;Meu trabalho e a escola dos meus filhos ficam perto de casa. É a maneira de otimizar o tempo curto;, explica a executiva. ;Mesmo não sendo a situação mais confortável, não adianta se culpar pela falta tempo. Ninguém dá conta de tudo o tempo todo;, complementa. Luciana Solino, 33 anos, é da mesma opinião. Ela divide a agenda entre ser mãe, empresária e consultora de imagem. Todos os dias, a diretora da Cia Athlética, uma das maiores academias do Distrito Federal, sai de casa às 8h30 e só retorna às 22h.
Mesmo com o ritmo de trabalho puxado, ela não deixa de fazer exercícios diários, cuidar da estética e de estar presente em todas as ocasiões da vida do filho Davi, 4 anos. ;A mulher profissional de hoje sempre sofre mais que o homem. Ela tem uma ligação muito forte com os filhos. Às vezes, não temos tempo nem para a gente, mas precisamos dividir bem os horários para cumprir todas as tarefas;, conclui.
Devemos, sim. Mas pagamos!
As brasileiras são as que mais entram para as lista de maus pagadores, mas também são as primeiras a pôr a vida financeira em ordem logo que conseguem ganhar algum dinheiro. Dados do Serviço de Proteção ao Crédito Brasil (SPC), mês após mês, elas superam os homens na quantidade de registros negativos da instituição. O motivo: fazem compras com mais frequência e recorrem mais ao crédito no comércio. A dianteira nas estatísticas garante a movimentação do mercado bilionário de roupas, sapatos, joias, bijuterias e produtos tecnológicos.
A maioria das gastadoras tem idade entre 21 e 40 anos e grande parte de suas dívidas é de até R$ 1 mil. Essa é a faixa etária na qual as pessoas estão se estabelecendo na vida e na profissão. Para isso, precisam adquirir bens e sustentar a família, o que faz com que parcela importante do endividamento seja mais significativa para esse grupo de pessoas.
O presidente da Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL), Roque Pellizzaro, explica que as mulheres são boas pagadoras e estão mais preocupadas em limpar o nome do que os homens. Por outro lado, são mais impulsivas e gastam mesmo sem precisar do produto. ;Essa impulsividade resulta, às vezes, em compromissos que não podem ser honrados na hora de pagar a conta. Eis o motivo para que a inadimplência feminina seja maior que a do homem;, pondera Pellizzaro.
Cartão de crédito
Grande parte das dívidas femininas está concentrada nos cartões de crédito, seguido por carnês e contas de consumo (luz e telefone). Diversos levantamentos de entidades ligadas ao comércio demonstram que o dinheiro de plástico é responsável por cerca de 80% dos débitos dos consumidores, apesar dos juros abusivos e da tarifação pouco clara. ;A mulher não é diferente do homem nesse aspecto: usa muito cartão de crédito. Todo o meio de pagamento que facilita a impulsividade é mais utilizado. As compras a prazo e com o cartão geram uma falsa sensação de que não foi preciso pagar na hora. Mas elas compromete os pagamentos no futuro;, resume Pellizzaro.