No que depender das construtoras que integram o consórcio Norte Energia, vencedor do leilão para a construção da hidrelétrica de Belo Monte, no Rio Xingu (PA), não haverá espaço para as gigantes Camargo Corrêa e Odebrecht, que desistiram de participar do processo de licitação, nem para a Andrade Gutierrez, líder do grupo perdedor da concorrência. O presidente do grupo JMalucelli, Joel Malucelli, e um alto executivo da Mendes Júnior afirmaram ao Correio que as empreiteiras campeãs têm plenas condições de erguer o empreendimento, estimado em US$ 19 bilhões, sem o auxílio das maiores companhias do setor. ;Não vejo a possibilidade (de acionar as outras empresas). Não faz sentido e não há necessidade de fazer isso;, ressaltou Malucelli.
Segundo as normas da competição, elas têm direito de executar as obras que colocarão de pé a terceira maior hidrelétrica do mundo. ;A regra é essa. Nós temos a preferência;, enfatizou o executivo da Mendes Júnior. Como o empreendimento é muito grande, pode até ser feita alguma parceria no futuro, mas o comando e o ;filé; vão ficar a cargo das empresas vencedoras, garantiu João Francisco Bittencourt, diretor da construtora JMalucelli e da JMalucelli Energia. ;Nós ganhamos o leilão, depositamos as garantias e temos de ter uma participação grande na construção. Não vamos ficar com uma pequena parte e deixar a maior parte para outras empresas;, enfatizou.
Apesar das movimentações da Andrade Gutierrez, da Camargo Corrêa e da Odebrecht para angariar vultosos contratos no canteiro de obras de Belo Monte, o pleito dificilmente será aprovado pelo consórcio vencedor. Diante desse cenário, só mesmo uma forte pressão política poderia reverter o quadro em prol das três companhias. Interessados em participar do negócio como investidores não faltam. Uma fonte que acompanha as conversas de perto disse ao Correio que Petros e Funcef ; fundos de pensão dos funcionários da Petrobras e da Caixa, respectivamente ; bem como CSN, Gerdau e Brasken têm procurado o grupo vencedor.
;Tem empresa até que já enviou carta de intenções;, revelou. Não há abertura, contudo, para a entrada de novas construtoras no bloco de investidores, pois a composição do consórcio já está acima do previsto no edital. A investida agora, é por autoprodutores de energia, como as duas siderúrgicas e o conglomerado petroquímico.
[SAIBAMAIS]Pressa
O consórcio vencedor tem pressa para equacionar os trâmites legais na Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) e antecipar o cronograma da obra, previsto para ter início no segundo semestre. A entrega da documentação, por exemplo, precisa ser feita até 10 de maio, mas vai ocorrer uma semana antes. ;Já contratamos uma empresa para continuar o processo de licenciamento. A ideia é fazer toda a antecipação que for possível e assinar o contrato para começarmos as obras em novembro;, destacou Bittencourt.
Segundo o ministro de Minas e Energia, Márcio Zimmerman, a antecipação do cronograma é possível e traria vantagens financeiras, como o início da venda da energia no mercado livre antes do prazo fixado em contrato. Ele falou sobre o assédio das companhias que perderam o leilão ao governo. ;A construtora tem que fazer contato é com o grupo vencedor. Não é um empreendimento estatal. É privado;, disse.
A JMalucelli quer iniciar a obra logo para usar o equipamento da construção da usina de Mauá (PR), com capacidade de 360 megawatts, que será concluída neste ano. O executivo da Mendes Júnior destacou a experiência da empresa nos maiores empreendimentos hidrelétricos do país. ;Somos um dos precursores na construção de hidrelétricas. Nós fizemos Itaipu e as grandes usinas do país. Estamos presentes em cerca de 80% do parque instalado;, ressaltou Malucelli.
NOVAS DISPUTAS
; O governo vai licitar, até julho, duas usinas hidrelétricas na região da Amazônia, que complementarão a energia gerada por Belo Monte. Segundo o ministro de Minas e Energia, Márcio Zimmerman, o leilão será para a construção de duas geradoras no Rio Parnaíba. Outras cinco já têm a licença prévia: Garibaldi (SC), Colida, no Rio Teles Pires , e duas no Amapá (Santo Antônio do Jaribe e Ferreira Gomes). ;Essas são as usinas que devem ir (a leilão) primeiro;, afirmou. Num segundo momento, haverá uma outra concorrência pública para mais uma usina no Amapá, três no Rio Parnaíba e outra no Teles Pires. O objetivo é construir 13 hidrelétricas, que gerarão 4.640 megawatts. O governo também licitará 14.529 megawatts de energia renovável, que serão usados como fonte alternativa à geração hidráulica para segurança do abastecimento. (KM)
O número
R$ 19 bilhões
Custo estimado do empreendimento