Jornal Correio Braziliense

Economia

Reforma de regras financeiras emperra no Senado

A ampla reforma da legislação financeira enviada ao Congresso pelo presidente Barack Obama para controlar Wall Street encalhou nesta segunda-feira no Senado americano, onde os republicanos conseguiram bloquear a iniciativa para lançar o debate.

No total, 57 senadores votaram a favor da abertura do debate, sem alcançar os 60 votos necessários para iniciar a análise da mais ambiciosa reforma das regras financeiras nos EUA desde a Grande Depressão, nos anos 30.

O projeto de lei prevê a criação de uma instituição de proteção ao consumidor financeiro, no seio do banco central (Fed). Propõe também uma melhor supervisão do imenso mercado de derivativos. Os autores do texto esperam ainda pôr um fim aos resgates de grandes instituições financeiras em dificuldade à custa dos contribuintes.

O líder da maioria democrata no Senado, Harry Reid, votou contra a iniciativa para poder reapresentá-la, em data posterior, segundo o regimento do Senado.

Lançada diante da pressão da opinião pública sobre os grandes bancos, responsabilizados pela crise financeira de 2008, e visando as eleições legislativas de novembro, republicanos e democratas querem aplicar regras mais rígidas a Wall Street.

O senador democrata Bob Nelson também se uniu aos 39 republicanos que votaram contra a abertura do debate. Dois republicanos, Bob Bennett e Kit Bond, se abstiveram.

Após o bloqueio, o presidente Barack Obama mostrou seu descontentamento.

"Eu estou profundamente desapontado que os Senadores republicanos tenham votado em bloco contra o início de um debate público da reforma", afirmou o presidente.

"Alguns desses senadores devem acreditar que essa obstrução é uma boa estratégia política, e outros devem ver o atraso como uma oportunidade de realizar esse debate a portas fechadas, onde lobistas de indústrias financeiras podem atrapalhar a reforma ou acabar com ela completamente", disse Obama.

"Mas os americanos não podem aceitar isso", acrescentou.

Obama afirmou que a falta de proteção aos consumidores e a falta de responsabilidade em Wall Street quase deixaram a economia americana "de joelhos".

"A reforma que os dois partidos estiveram trabalhando por um ano evitaria que uma crise como essa ocorresse novamente, e eu encorajo o Senado a voltar a trabalhar e a colocar os interesses do país na frente do partido".

O presidente publicou um comunicado minutos após o bloqueio da reforma no Senado.

Segundo uma pesquisa do Washington Post/ABC, publicada nesta segunda, a opinião americana apoia por 65% contra 31% um aumento no controle do sistema financeiro.

Na terça-feira, uma comissão do Senado deverá trazer mais argumentos para os partidários de uma reforma rápida. Os altos dirigentes do Goldman Sachs, incluindo o presidente, Lloyd Blankfein, e seu diretor financeiro, David Viniar, vão testemunhar diante de uma comissão permanente de investigação, ao lado de Fabrice Tourre, o francês que estaria no centro das queixas das autoridades financeiras americanas contra o banco.

No último sábado, a comissão publicou mensagens eletrônicas trocadas pelos executivos do banco que dão indícios de que os donos do Goldman Sachs podem ter embolsado milhões de dólares em meio ao desempenho em baixa do mercado de créditos imobiliários de risco. Contudo, o banco nega as acusações.