Jornal Correio Braziliense

Economia

Belo Monte pode ajudar na valorização das ações da empresa, que já subiram 50%

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Além de evitar riscos de apagão nos próximos anos, a hidrelétrica de Belo Monte poderá vitaminar as ações da Eletrobras, empresa que, na prática, vai liderar a construção da usina. Analistas de mercado preveem que o preço das ações da estatal dobre até o fim do ano. Hoje, o valor de mercado da companhia, de R$ 30,9 bilhões, não corresponde nem à metade de seu patrimônio líquido de R$ 76 bilhões.

De acordo com Marcos Severine, economista da Itaú Securities, Belo Monte terá um papel importante na valorização da empresa, que vem se beneficiando de uma nova estratégia de ação iniciada em março de 2008, com a posse de seu presidente José Antonio Muniz Lopes. Severine explicou que o preço das ações já aumentaram 50% desde novembro do ano passado, refletindo medidas como o estabelecimento de metas operacionais, o pagamento de dividendos retidos e inovações da legislação que desoneram o caixa da estatal.

O fato de atuar em conjunto com a iniciativa privada tanto no megaprojeto de Belo Monte, como em Jirau e Santo Antônio é outro fator que ajudará o mercado a mudar sua percepção sobre a Eletrobras, segundo Severine. ;A ação está parada no tempo. As coisas mudaram e o mercado está demorando para entender isso;, afirmou o especialista.

O analista do Itaú avaliou, no caso de Belo Monte, que o pacote de benefícios concedidos pelo governo para o consórcio vencedor ; com subsídios que podem chegar a R$ 6 bilhões ; tornou a taxa de retorno do empreendimento interessante. ;Com o capex (custo da obra) de R$ 25,3 bilhões, a taxa de retorno para o acionista será de 10,2%. Se fosse mesmo de R$ 19,6 bilhões como o previsto pelo governo, então essa taxa seria de 16,3%, que é bastante elevada;, acrescentou.

Contraponto
No entanto, outros analistas, têm uma visão mais pessimista para a Eletrobras. Para o Banco JP Morgan, os riscos na execução do empreendimento de Belo Monte continuam altos. A instituição destaca a possibilidade de atrasos na obra em função de dificuldades do próprio projeto de engenharia, que prevê a escavação de um canal de 40 quilômetros. Outro problema seriam os protestos e ações judiciais de grupos ambientalistas e das tribos indígenas que vivem na área onde será construída a represa. ;Os riscos do projeto são muito altos para vermos como positivo o resultado do leilão para a companhia;, traz o parecer divulgado pela instituição.

O JP Morgan mantém uma visão de neutralidade para as ações da estatal e aponta razões políticas e administrativas para sustentar seu ponto de vista. Entre elas, o alto nível de influência política na gestão da empresa e as incertezas na manutenção dos gestores e da atual estratégia corporativa depois das eleições presidenciais. A instituição também aponta o insucesso na implementação de programas de redução de despesas e melhoria da transparência na holding. Aponta ainda a insistência da empresa em manter diversos investimentos de alto risco no Brasil e no exterior, em investimentos cujos retorno não atraem o setor privado.

De acordo com um gestor da estatal, a Eletrobras aposta no cenário de valorização apresentado pelo Itaú Securities. No entanto, a direção está preocupada com a resistência da subsidiárias, especialmente Chesf e Furnas, ao processo de reestruturação da holding, em pleno período eleitoral. Ambas temem perder autonomia e poder para adquirir produtos e serviços por conta própria.

Obras em setembro
O ministro das Minas e Energia, Márcio Zimmermann, garantiu que a hidrelétrica de Belo Monte, no Pará, terá suas obras iniciadas no máximo em setembro deste ano. Com o leilão vencido pela Eletrobrás Chesf, estatal que lidera o consórcio Norte Energia, segundo ele, o governo tentará antecipar a assinatura do contrato de outorga. ;Trata-se da usina mais planejada do mundo. Foram cinco anos de estudos ambientais e não podemos mais esperar;, afirmou. O ministro criticou a ação das Organizações não governamentais (ONGs) que tentam protelar o processo de construção inevitável da obra, considerando que tais atitudes não passam de ;manipulações;. ;Não sou técnico, mas me reporto aos números. Foram mais de R$ 70 milhões gastos em estudos ambientais e se for necessário, faremos algumas adequações. Essa inquietude é natural, mas Belo Monte precisa sair;, afirmou. Zimmermann não descartou a possibilidade de a Eletrobrás Chesf assumir integralmente a execução da obra, uma vez que detém 49% do consórcio.