Diante dos evidentes sinais de aquecimento da economia, o Fundo Monetário Internacional (FMI) revisou, para cima, as projeções de crescimento para o Brasil neste ano, de 4,7% para 5,5%. O organismo fez, porém, uma importante ressalva: para evitar os problemas inflacionários que já atormentam o Banco Central, será preciso pôr fim rapidamente aos estímulos dados pelo governo no auge da crise mundial, no fim de 2008 e início do ano passado. Ou seja, o Ministério da Fazenda terá de reverter as isenções fiscais concedidas a vários setores produtivos ; parte delas, por sinal, já foi retirada ; e o Comitê de Política Monetária (Copom, elevar a taxa básica de juros (Selic) a partir da próxima semana, como espera todo o mercado.
No entender do FMI, não se pode dar espaço para que o supercrescimento do Brasil neste ano (analistas falam em taxas acima de 7%) se transforme em problemas. A instituição ressaltou que os atuais índices de preços, bem acima do centro da meta perseguida pelo BC, de 4,5%, são preocupantes, exigindo uma política monetária "ágil" e pronta para a reação. Como bem deixou claro o presidente do BC, Henrique Meirelles, o aumento da Selic é certo. Os economistas só se debatem sobre o tamanho: há os que pregam o início da alta em 0,5 ponto, os que defendem 0,75 ponto a partir deste mês e os mais pessimistas, que dizem ser necessário um arrocho inicial de um ponto. Com essa esperada elevação dos juros, o FMI estimou um avanço menor para o Produto Interno Bruto (PIB) em 2011: 4,1%.
Para Olivier Blanchard, diretor do Departamento de Pesquisa do FMI, o supercrescimento projetado para o Brasil neste ano é decorrência da saída mais rápida dos países emergentes da crise. "Os desafios para esses países são como e quando abandonar as políticas macroeconômicas complacentes", destacou. O problema se torna maior porque, com as economias fortalecidas, essas nações estão atraindo fluxos crescentes de capitais, que podem desequilibrar as contas correntes (com o exterior). A seu ver, várias países já mostram dificuldades para acomodar o movimento de recursos e o resultado tem sido valorizações expressivas de suas moedas(1) frente ao dólar.
O mundo se recupera
O conjunto da América Latina também terá um bom desempenho neste ano e em 2011, com expansão média de 4,1%. Segundo o FMI, a região é uma das que demonstra melhor recuperação da pior crise econômica desde a II Guerra Mundial. Nos cálculos da instituição, somente o Peru, com alta de 6,3% neste ano, crescerá mais do que o Brasil (isso, caso o Fundo esteja certo e não os analistas que preveem incremento de 7% do PIB). No ano que vem, o país será superado novamente pelo Peru (6%) e pelo Chile (6%). Os piores desempenhos serão registrados pela Argentina ( 3,5% neste ano e 0,7% em 2011) e pela Venezuela, que encolherá 2,6% em 2010 e avançará minguado 0,4% no próximo ano.
O FMI também elevou a previsão de crescimento mundial, de 3,9% para 4,2% neste ano. Mas alertou para os riscos que ainda pesam sobre a recuperação global, sobretudo em relação à dívida pública dos países desenvolvidos e aos desequilíbrios nos fluxos de capital (leia mais na página 15). Em 2009, pagando o preço do estouro da bolha imobiliária americana, a economia do mundo retrocedeu 0,6%. "A atividade se desenvolve a ritmos diferentes, timidamente nos países desenvolvidos, mas vigorosamente na maior parte dos emergentes e dos países em desenvolvimento", afirmou Blanchard. A Zona do Euro terá avanço de 1% e a Ásia de 8,7%, puxada pela China, com 10%. Os Estados Unidos devem crescer 3,5%.
1 - Desvalorização do yuan
O Fundo Monetário Internacional (FMI) ressaltou ser "essencial" que a China deixe a sua moeda, o yuan, se valorizar em relação ao dólar. Segundo a instituição, a divisa está "claramente" desvalorizada e a sua correção é importante para se dinamizar o comércio internacional, com o aumento das importações do país de maior população do planeta, que disputa com o Japão o posto de segunda economia mundial.