A ânsia do consumo por parte da população de baixa renda, que quis aproveitar a vantagem dada pelo governo para a compra, com imposto reduzido, de veículos, móveis e vários eletrodomésticos (fogão, geladeira e máquina de lavar), fez com que a procura por crédito desse um salto em março. Segundo a Serasa Experian, a demanda por financiamentos cresceu 18,3% em relação a fevereiro. Se forem consideradas apenas as famílias com renda mensal de até R$ 500, o crescimento foi muito maior: 32,9%. As duas taxas são recordes.
Para Carlos Henrique de Almeida, assessor econômico da Serasa Experian, os consumidores aproveitaram o último mês de vigência do Imposto sobre Produto Industrializado (IPI) reduzido e partiram em massa para as compras, geralmente utilizando crédito. %u201CMarço foi um mês atípico, porque a vantagem para a aquisição de vários produtos tinha data certa para acabar. Essa situação levou à antecipação do consumo%u201D, explicou.
Outro motivo para o aquecimento do consumo, via crédito, foi que as taxas de juros permaneceram estáveis. Pesquisa feita pelo Procon de São Paulo, com 10 grandes bancos, mostrou que a taxa média do empréstimo pessoal ficou estável pelo sexto mês consecutivo. Também não houve mudança nos elevadíssimos juros do cheque especial, há quatro meses no mesmo patamar. Pela pesquisa do Procon, a taxa média do crédito pessoal está em 5,17% ao mês. A única alteração foi registrada no Bradesco, que reduziu os juros dessa modalidade de empréstimo de 5,37% para 5,34% ao mês. No cheque especial, os bancos estão cobrando juros de 8,79% ao mês.
O Procon ressaltou, porém, que os consumidores devem se preparar. Com o aumento da taxa básica da economia (Selic) no fim deste mês, todas as linhas de crédito tenderão a ficar mais caras. O endividamento só será indicado em casos de necessidade.
Não à tentação
Apesar de concordar com o alerta do Procon, o assessor econômico da Serasa Experian não vê nenhum problema no aumento do crédito. %u201CEsse crescimento é bom, principalmente num país como o nosso, onde tradicionalmente o crédito sempre foi escasso e as famílias de menor renda ficavam à margem do processo%u201D, disse Almeida. O que preocupa o economista é a qualidade do financiamento familiar. %u201COs dados do Banco Central até fevereiro apontam para o crescimento do uso do cheque especial, um crédito caro e de curto prazo%u201D, observou.
No entender de Almeida, o consumidor deve ser cuidadoso, sobretudo aquele que pega crédito de longo prazo. %u201CO crédito de longo prazo exige muita disciplina do cidadão, que tem de ficar vigilante quanto ao desejo de fazer novas compras. Se ele cair na tentação, a consequência pode ser o comprometimento excessivo da renda familiar, com risco de inadimplência mais à frente%u201D, frisou.