A Argentina tentará nesta semana conquistar seus credores com uma generosa oferta para a troca de sua dívida em moratória e enterrar no passado seu "default". Posteriormente, o país deverá acertar as contas pendentes com o Clube de Paris, afirmaram economistas em Buenos Aires.
O governo da presidente Cristina Kirchner divulgará qual percentual está disposto a reconhecer do total da dívida, que soma 20 bilhões de dólares de capital e outros 9 bilhões de dólares em juros vencidos desde 2005.
Naquele ano, o antecessor e marido da presidente, o líder peronista Néstor Kirchner (2003-2007) conseguiu a adesão de 76,15% dos credores para uma troca de títulos que pretendia consertar o cataclisma provocado em 2001 pela maior declaração de moratória da história contemporânea, de quase 100 bilhões de dólares.
Mas o restante dos credores, os chamados "holdouts", rejeitou o plano e envolveu o país em uma feroz batalha judicial em tribunais e fóruns internacionais, conflito que a atual presidente tenta deixar para trás.
Eduardo Blasco, da consultoria Maxinver, disse à AFP esperar "uma oferta razoável, ao pagar 50 dólares para cada 100 dólares de dívida (50% da dívida)", ainda que outros consultores calculam uma taxa melhor na troca de títulos. "Temos que ter em conta que há títulos em ;default; que não faz muito tempo estavam cotados a 30 dólares para cada 100. Com uma adesão de 70% ou mais, ficarão de fora apenas aqueles (credores) que continuarem litigando", disse Blasco.
Dante Sica, da consultoria Abeceb.com, disse que a operação "é um avanço para melhorar a credibilidade, diminuir o risco do país e conseguir financiamento a taxas razoáveis", mas "falta a negociação da dívida com o Clube de Paris", das potências credoras, de em torno de 6,5 bilhões de dólares.
Daniel Marx, ex-negociador da dívida e diretor da AGM Finanças, disse que a troca "por si só não será suficiente para melhorar a situação da Argentina", ao afirmar que faltam "ações fiscais e credibilidade com as estatísticas", questionadas por suspeitas de manipulação.
Aldo Pignanelli, ex-presidente do banco central argentino, afirmou que a oferta aos credores era "um passo que tinha que ser dado e que terá êxito porque não resta outra alternativa aos detentores dos títulos a não ser aceitar".
"Temos que levar em conta que existem 5 bilhões de dólares nas mãos dos ;fundos abutres; que rejeitarão a troca. O restante vai aceitar porque vai trocar um título quase sem valor por outro cujo preço de mercado estará perto dos 50%", endossou Pignanelli.
Marcelo Lascano, ex-consultor externo do Fundo Monetário Internacional (FMI), lembrou que "a dívida com o FMI (de 9,5 bilhões de dólares) foi cancelada há cinco anos e depois a presidente anunciou o pagamento ao Clube de Paris", mas o plano foi frustrado quando a crise mundial das hipotecas de alto risco estourou.
Ramiro Castiñeira, da consultoria Econométrica, disse que a troca "aproxima o país dos mercados financeiros e leva confiança na capacidade de pagamento da dívida", mas declarou que "ainda faltam sinais para recuperar o superávit fiscal, controlar a inflação e afrouxar o ritmo do gasto público".
[SAIBAMAIS]Aldo Abram, da Exante, disse que "é um passo necessário para reconstruir a crebilidade argentina" e considerou que "uma adesão de mais de 60% seria exitosa".
Miguel Bein, diretor da Bein e Associados, disse que a operação "é a chave sem a qual não se poderá sair do ;default; e não se poderá emitir dívida a um custo razoável".
A Argentina pagará este ano 15 bilhões de dólares em compromissos de dívida externa, sobre uma dívida global de 147 bilhões de dólares, que representa 50% do Produto Interno Bruto (PIB) do país.
Um desses pagamentos, de 203,6 milhões de dólares, acaba de ser feito por Kirchner com o uso das reservas do Banco Central, apesar da resistência da oposição à medida.