O Ministério da Justiça exigiu explicações da fabricante de alimentos Yoki sobre possíveis danos à saúde dos compradores de sua linha de salgadinhos Lanchinho. O Departamento de Proteção e Defesa do Consumidor (DPDC), que faz parte da estrutura do ministério, convocou os executivos da empresa para uma reunião ontem com o objetivo de forçá-los a fazer um recall dos produtos. As embalagens dos salgados estão induzindo o público a erro quanto à existência de glúten na fórmula, o que expõe a risco a vida dos celíacos, pessoas que têm alergia a esse tipo de proteína. A denúncia chegou aos Procons de São Paulo, Mato Grosso e Bahia, que a transferiram ao DPDC sob o argumento de que o tema é nacional. A empresa terá cinco dias para apresentar um plano de comunicação para o recall.
"É um assunto muito sério, pois se trata da saúde das pessoas. A própria empresa reconhece que houve uma contradição nas informações dos pacotes", disse ao Correio o diretor do DPDC, Ricardo Morishita. As embalagens informam que os produtos contêm glúten, exigência da legislação para salvaguardar os celíacos. O problema surgiu quando a empresa resolveu juntar cinco pacotes num só, vendido nos supermercados com preço promocional. O rótulo externo trocou o sinal da comunicação, afirmando que os salgadinhos estavam livres da proteína.
Na reunião, Morishita determinou que a Yoki recolha esses itens das prateleiras. "Todas as vezes em que ocorre um problema ou um defeito num produto, colocando em risco a segurança e a saúde dos consumidores, é preciso informar os clientes e retirar o item do mercado. O consumidor que tem intolerância ao glúten precisa da informação adequada para não correr riscos", afirmou.
Em nota enviada ao Correio, a Yoki informou que detectou o problema em janeiro e que já tomou as medidas necessárias para recolher os salgadinhos. "A empresa tomou providências imediatas e conseguiu fazer a rastreabilidade pelo lote dos produtos, por meio da sua equipe de venda em todo o Brasil, e proceder com a retirada do produto de todos os pontos de vendas", assinalaram os diretores no comunicado. A empresa apresentou um documento de 100 páginas ao DPDC na tentativa de evitar que a situação chegasse ao público.
"Eles disseram que já retiraram tudo do mercado, mas os Procons e as Vigilâncias Sanitárias têm competência para fiscalizar e saber se é verdade. Ainda assim, o consumidor precisa ser informado", explicou Morishita. "Eles devem nos apresentar a quantidade de produtos, a divisão de quantos deles precisam ser recolhidos por estado e o plano de comunicação para informar o fato aos clientes. Eles têm cinco dias para nos dar essas informações e depois chamar o recall", completou o coordenador de Assuntos Jurídicos do DPDC, Amauri Oliva.
Caso a empresa não coopere, pode ser multada. A convocação de empresas para retirar do mercado alimentos com problemas é muito rara. Os recalls são mais comuns em bens duráveis, como automóveis, motocicletas ou aparelhos celulares.