A suspeita de fraude no concurso da Polícia Militar do Distrito Federal levantou questionamentos sobre a eficácia de gabaritos de provas psicotécnicas. A denúncia de venda das respostas de quatro dos oitos testes fez com que o Tribunal de Contas do DF suspendesse a seleção e determinasse ao Cespe/UnB e à PMDF que investiguem o caso. O teste psicotécnico é uma etapa presente na maioria dos concursos e tem por objetivo saber se o perfil do candidato está adequado ou não ao cargo. No edital, o item sobre o assunto descreve os critérios que serão levados em consideração sem dizer os nomes dos exames a serem aplicados. Ou seja, trata-se de uma avaliação subjetiva.
[SAIBAMAIS]"Não há como se preparar para provas psicológicas. Questões de raciocínio lógico têm respostas definidas, mas existem dezenas de testes que podem ser aplicados", afirmou o professor universitário e psicólogo Otávio Leite. Para ele, ter o gabarito (em mãos) não beneficia muito o candidato. "Não existe vantagem real nisso. Para ser recomendado, o candidato precisa demonstrar características adequadas ao perfil do cargo em um conjunto de testes, de forma a englobar as áreas de personalidade, habilidades específicas e tipos de raciocínios", acrescentou. O professor não descartou, porém, a gravidade do vazamento. "Se os gabaritos estiverem corretos e se houve vazamento provas, o caso é bastante grave e deve provocar anulação", assinalou.
Em nota oficial, o Cespe descartou a possibilidade de ter ocorrido vazamento do gabarito das provas e informou que a avaliação aplicada aos aspirantes a soldado foi composta de oito exames distribuídos entre testes de personalidade, de habilidades específicas e de tipos de raciocínio. "Cabe ressaltar que a matéria de raciocínio lógico é regularmente aplicada em cursos preparatórios e que existem diversos livros publicados, com questões e gabaritos sobre a matéria", disse. No entender do Cespe, "a divulgação prévia dos testes não pode, por si só, ser comparada com a de uma prova de conhecimentos (objetiva e discursiva) sigilosos".
A suspensão determinada pelo Tribunal de Contas do DF foi baseada em documentos entregues, na última quarta-feira, pelo procurador Inácio Magalhães Filho, do Ministério Público, ao conselheiro do TCDF Renato Rainha. No relatório, que recomenda a interrupção, Magalhães afirmou que, caso seja comprovada a fraude, haverá uma "evidente lesão ao princípio do concurso". "Não é do interesse de ninguém que o concurso seja paralisado, mas não se pode deixar que denúncias como essa maculem o processo seletivo", disse Rainha. Cerca de 3 mil inscritos fizeram a prova de avaliação psicológica em 14 de março. Estão em jogo 750 vagas para soldados com salários de até R$ 4.056, após o curso de formação.