A Europa aprovou nesta quinta-feira (25/3) um plano de ajuda à endividada Grécia, que inclui, pela primeira vez, o FMI, na crise vivida por um país da Zona do Euro, como queria a Alemanha que, além disso, fez os parceiros europeus prometerem endurecer suas políticas de disciplina fiscal.
O plano, que obteve o consenso prévio da França e Alemanha, contou com o sinal verde dos 16 países da Zona do Euro, durante reunião de cúpula da União Europeia (UE) em Bruxelas. Ficou estabelecido, no entanto, que seria ativado unicamente como "último recurso".
A aprovação está voltada, no entanto, a tranquilizar os mercados que, nos últimos dias, deram demonstrações de nervosismo em relação à estabilidade da Zona do Euro, fazendo com que a cotação da moeda única fosse negociada abaixo de 1,33 dólar pela primera vez em mais de dez meses.
[SAIBAMAIS]Depois de semanas de árduas negociações, os representantes da Zona do Euro aprovaram um plano baseado na criação de um sistema europeu de empréstimos bilaterais, complementado com uma ajuda "substancial" do Fundo Monetário Internacional (FMI).
A Europa "nunca abandonará a Grécia", prometeu o presidente da UE, Herman Van Rompuy, afirmando que com este acordo envia-se "mensagem política forte" destinada a "acalmar os temores dos que possuem títulos gregos".
O primeiro-ministro grego, Georges Papandreou, qualificou a decisão de "muito satisfatória".
Em caso de extrema necessidade, isto é, se a estabilidade financeira da Zona do Euro correr perigo, os países membros estão dispostos a emprestar dinheiro, voluntariamente, e de forma bilateral à Grécia, de acordo com sua contribuição ao capital del Banco Central Europeu, segundo o documento acordado.
A fórmula responde às exigências da chefe do governo alemão, Angela Merkel, que na semana passada enterrou um projeto de ajuda puramente europeu contando com o apoio da opinião pública do país, hostil em arcar com a crise das finanças gregas.
A intervenção do FMI seria uma inovação na história da Zona do Euro, criada em 1999. O Fundo, embora tenha ajudado a países da UE como a Hungria, nunca participou do resgate de um membro do espaço monetário único.
Embora os governos de Espanha, França e Itália tivessem se mostrado em princípio arredios a aceitar essa possibilidade, ao estimar que minaria a credibilidade do euro, a insistência da Alemanha, principal economia europeia, obrigou-os a ceder.
Atenas enfrenta uma dívida de quase 300 bilhões de euros (406 bilhões de dólares), com um déficit público que alcançou 12,7% do Produto Interno Bruto (PIB) em 2009, acima dos 3% autorizados por Bruxelas.
Embora os líderes europeus não tenham anunciado cifras, fontes diplomáticas estimaram nesta semana que os empréstimos que a Grécia poderia receber totalizariam entre 20 bilhões e 30 billones de euros (26 bilhões e 40 bilhões de dólares) a taxas de juros mais atraentes que as de mercado.
O governo grego, que aprovou um plano de austeridade, paga agora taxas de juros que considera insustentáveis a longo prazo.
A Alemanha arrancou, além disso, de seus parceiros, a promessa de "fortalecer" a política da UE de disciplina fiscal, com o objetivo de "garantir a sustentabilidade fiscal" da Zona do Euro.
Merkel deixou claro dias antes que qualquer acordo para a Grécia deveria estar acompanhado de um compromisso de reforço de medidas contra os países considerados laxistas, incluindo sanções, como uma eventual expulsão da Zona do Euro.
O plano "é um passo maior que nos obriga, também, a repensar nossos mecanismos de vigilância econômica e fiscal para que este tipo de crise não volte a se repetir", reconheceu por sua vez o presidente francês, Nicolas Sarkozy.
Além disso, as preocupações sobre a solvência da Grécia, os riscos de contágio na Zona do Euro são cada vez mais palpáveis, segundo os analistas.
A agência Fitch rebaixou nesta semana a nota da dívida a longo prazo de Portugal e os temores abrangem, igualmente, a Espanha e a Irlanda, que também enfrentam déficits públicos colossais, em consequência dos planes maciços de resgate adotados durante a crise econômica mundial.
De todos os modos, Van Rompuy afirmou que estes casos são "totalmente diferentes" do grego.