A forte especulação com os preços do açúcar no mercado mundial está pesando como nunca no bolso dos brasileiros. Segundo o IBGE, somente nos últimos 30 dias, o produto refinado ficou 10,26% mais caro e o cristal, 8,06%. No acumulado dos últimos 12 meses, o saldo é assustador. O açúcar refinado subiu 54,91% e o cristal, 48,13%. Nem mesmo as projeções de crescimento expressivo em 2010 para as safras de cana de açúcar da Índia e do Brasil foram suficientes para reverter a alta - a estimativa é de que haja uma sobra de 5 milhões de toneladas do produto ao longo de 2010. Os especuladores estão puxando os preços das bolsas de mercadorias. O açúcar é uma das principais commodities agrícolas.
Até o fim do ano passado, a justificativa para a alta do açúcar era a quebra da safra da Índia(1), o segundo maior produtor global de cana. Mas, segundo a Federação de Cooperativas e de Fábricas de Açúcar de Maharashtra, a produção de 2010/2011 do país vai aumentar até 52%, para 25 milhões de toneladas ante os 16,5 milhões da safra anterior. Mesmo com essa recomposição expressiva, ainda será necessário comprar do Brasil, mas em menor escala, o que já permitiria a redução dos custos por aqui.
Cautela
O problema, segundo analistas de mercado, é que uma onda especulativa, para aproveitar essa alta de preços, está impedindo um arrefecimento do custo do açúcar para o consumidor. "Em janeiro, voltamos a ter alta do açúcar em função do dólar, mas, em breve, os preços devem começar a ser corrigidos. A questão é que os investidores correram para a commodity, talvez até para se protegerem", explicou Renata Marconato, analista de agronegócio da consultoria MB Agro. "A tendência é de que comecemos a ver um recuo nos preços. A Índia registrou aumento da safra, mas ainda deve importar alguma coisa do Brasil", ponderou.
O mercado futuro de açúcar da bolsa de Nova York já começou e evidenciar essa tendência. O preço da commodity para entrega em maio fechou ontem com queda de 7,12%. Para o coordenador geral de açúcar e álcool do Ministério da Agricultura, Cid Caldas, é preciso cautela, pois o ritmo de importação da Índia ainda deve continuar forte neste ano, mesmo com o crescimento da safra local e com os mercados futuros negociando o produto com os preços em queda. "Os indianos ainda precisam recompor os estoques e ajustar oferta. Portanto, o preço do açúcar ainda deve permanecer elevado", avaliou Caldas.