Brasília - O investimento estrangeiro direto (IED), que vai para o setor produtivo do país, pode não ser suficiente para cobrir o déficit em conta corrente pela primeira vez desde 2001, segundo previsão do Banco Central (BC).
O BC estima que o déficit nas transações comerciais e financeiras do Brasil com o exterior fique em US$ 49 bilhões. Para o investimento estrangeiro direto, a expectativa é de US$ 45 bilhões. Em 2001, foi registrado déficit em conta corrente de US$ 23,215 bilhões e os investimentos chegaram a US$ 22,457 bilhões.
Segundo o chefe do Departamento Econômico do BC, Altamir Lopes, o melhor seria cobrir o déficit com investimento estrangeiro direto, mas não há motivo para preocupação, pois o país conta com outras fontes de financiamento. ;As empresas brasileiras voltam a ter acesso ao mercado internacional de crédito. Tem-se ainda uma melhora significativa no investimento no mercado de ações e em renda fixa no país;, afirmou.
De acordo com os dados da instituição, de janeiro a fevereiro, o investimento estrangeiro total em ações negociadas no país e no exterior chegou a US$ 3,112 bilhões. No caso das ações negociadas no país, o investimento foi de US$ 3,138 bilhões. O investimento em renda fixa negociado no Brasil ficou em US$ 2,517 bilhões no primeiro bimestre.
Neste mês, até a data desta segunda-feira (22/3), o investimento estrangeiro em ações negociadas no país e no exterior, chegou a US$ 842 milhões. As ações negociadas no país ficaram em US$ 819 milhões e o investimento em títulos de renda fixa brasileiros chegou a US$ 1,516 bilhão.
Lopes disse que o Brasil está menos vulnerável por conta das reservas internacionais elevadas. Ele afirmou ainda que, se forem confirmadas as projeções do BC, o déficit em transações correntes corresponderá a 20% das reservas internacionais do país. De 1970 para 2009, a média dessa relação era de 56%.
O chefe do Departamento Econômico do BC lembrou, no entanto, que hoje o Brasil está em uma situação bem menos vulnerável, na comparação com o passado, por conta das reservas internacionais.
O consultor Carlos Eduardo de Freitas, ex-diretor do BC, afirma que, com o aumento do déficit em conta corrente, a tendência é de aumento da cotação do dólar. ;O ajuste será feito pela taxa de câmbio;, afirma. Esse aumento, explica Freitas, fará com que fique mais caro importar e mais fácil exportar bens e serviços.