Jornal Correio Braziliense

Economia

Primeiro-ministro chinês promete crescimento e justiça social

O primeiro-ministro da China, Wen Jiabao, prometeu manter o forte crescimento econômico do país e uma distribuição melhor da renda, ao definir nesta sexta-feira (5/3) no Parlamento as prioridades do governo para 2010. "Este é um ano crucial para continuar controlando a crise financeira internacional, para manter um desenvolvimento rápido e estável e para acelerar a transformação do modelo de desenvolvimento econômico", declarou o chefe de Governo na abertura da sessão anual plenária da Assembleia Nacional Popular (ANP, Parlamento). Wen anunciou que o governo mantém a meta de crescimento econômico de 8% do Produto Interno Bruto (PIB) da China, que disputa com o Japão o posto de segunda maior economia mundial. O crescimento de 8% é considerado pelo Partido Comunista Chinês (PCC) o mínimo necessário para manter o nível do emprego e garantir a paz social. Em 2009, apesar da crise mundial, a China registrou um crescimento de quase 9%. O primeiro-ministro fez o discurso diante dos deputados reunidos no Grande Palácio do Povo. [SAIBAMAIS]Ele também reiterou que 2010 terá como prioridade a luta contra a corrupção, flagelo que pode afetar a legitimidade do Partido Comunista. "Em 2010, teremos que dar uma importância capital à luta contra a corrupção, que é uma questão vital para a consolidação de nosso poder", disse. "Estabeleceremos um sistema completo de prevenção e repressão", completou, antes de prometer uma vigilância maior dos dirigentes de todos os níveis e dos quadros superiores. Ao mesmo tempo, Wen Jiabao fez questão de destacar que "o objetivo fundamental do desenvolvimento econômico é assegurar uma vida melhor aos cidadãos". "Deveremos nos esforçar mais não apenas para aumentar a torta das riquezas do país com o desenvolvimento econômico, mas também nos preocuparmos com uma divisão justa dessa riqueza", afirmou. O tema da construção de uma "sociedade harmoniosa" está presente em todos os discursos oficiais no país, que registra milhares de "incidentes sociais" a cada ano. Os incidentes têm relação geralmente com expropriações de terrenos sem pagamento de indenização, com a corrupção ou com a frustração de ter ficado à margem do crescimento, que disparou com as reformas de teor capitalista iniciadas no fim dos anos 70, após a morte em 1976 do fundador do regime, Mao Tse-Tung. Para evitar qualquer tipo de "incidente social", a reunião do Parlamento acontece sob forte vigilância, com uma grande presença policial na Praça da Paz Celestial (Tianamen), onde fica o Palácio do Povo. Como admitem as próprias autoridades, a diferença do nível de renda aumentou ainda mais no ano passado, sobretudo entre a cidade e o campo. Os habitantes das cidades ganharam em média 3,3 vezes mais que os moradores de zonas rurais; a diferença era apenas de 1,82 em 1983. Wen prometeu em particular que o governo atuará a favor do emprego e da proteção social, tanto nas cidades como no campo, sem esquecer os trabalhadores pobres e não qualificados emigrados para as grandes cidades, onde carecem de todos os direitos. As grandes organizações internacionais, assim como economistas chineses e estrangeiros, consideram que a economia chinesa se beneficiaria da instalação de um sistema de proteção social para todos. Isto permitiria liberar para o consumo o dinheiro que grande parte da população economiza atualmente em previsão de situações difíceis, para a aposentadoria ou para a educação dos filhos. Deste modo a demanda interna seria reaquecida, um dos objetivos das autoridades, o que reduziria o grau de dependência das exportações. Essencialmente, o governo mantém as grandes orientações macroeconômicas: o reequilíbrio do modelo de desenvolvimento para privilegiar o consumo interno, a inovação e a qualidade, a manutenção do yuan estável e uma política monetária flexível. Mas impõe também tetos ao crédito, para limitar as pressões inflacionárias e afastar os riscos de bolhas econômicas temidas por alguns analistas. Wen também confirmou o prosseguimento do plano de recuperação da economia anunciado no fim de 2008, que prevê grandes investimentos no prazo de dois anos.