O reaquecimento da economia e a ampliação gradativa do crédito melhoraram o fluxo de caixa das empresas e derrubaram os índices de falências e pedidos de recuperação judicial neste início de ano. As micro e pequenas empresas ; elos produtivos que ficaram fragilizados durante a crise econômica mundial ; tiveram o melhor fevereiro dos últimos cinco anos. No período, foi registrada a menor quantidade de solicitações de falência: 106 no total. Segundo levantamento da Serasa Experian, a retomada do país se reflete também em companhias de todos os portes. No geral, o volume de pedidos de recuperação judicial caiu 62,3% na comparação entre fevereiro e igual mês do ano passado. Frente a janeiro, a queda foi de 48,9%.
Com o desempenho do mês, a taxa de mortalidade das firmas brasileiras retornou aos patamares pré-crise. Para os índices de falências requeridas, o nível ficou abaixo dos 160 pedidos. Já as solicitações de recuperação judicial foram inferiores aos 30 processos. ;Houve uma melhora para todas as empresas. As grandes foram as que se recuperaram primeiro, até porque têm maior facilidade para obter crédito. As pequenas possuem os indicadores mais baixos, mas agora chegou a vez delas se recuperarem;, afirmou o assessor econômico da Serasa Experian, Carlos Henrique de Almeida.
Entre 2008 e 2009, os pedidos de recuperação judicial de micro e pequenas empresas cresceram 112%, ao passar de 172 processos no primeiro ano para 365 no segundo. Se os números de 2010 se mantiverem próximos aos registrados em janeiro e fevereiro, a tendência é que o ano feche com resultado melhor do que o apurado em 2008. De acordo com especialistas, o aumento do montante de recuperações judiciais no ano passado ocorreu em função da turbulência econômica, que atrapalhou o fluxo de caixa das empresas e fez com que os credores acionassem os empresários na Justiça para receber os valores devidos. ;A recuperação judicial era usada como instrumento de cobrança;, ponderou Almeida.
Consumo
Na avaliação dos economistas da Serasa, a consolidação do crescimento econômico a partir do segundo semestre de 2009, somada à redução dos níveis de inadimplência, à manutenção dos empregos e à expansão da massa de rendimentos, influenciou diretamente a queda da mortalidade das empresas. ;A gente pode justificar a melhora deste ano pelo ritmo da atividade econômica, que se aqueceu muito. O crédito também é importante, mas não está totalmente restabelecido. Com o crescimento, ele deve voltar e contribuir mais fortemente para a organização dos caixas das empresas;, explicou o assessor econômico da Serasa Experian.
A retomada do consumo, mencionado por Carlos Henrique de Almeida, foi determinante para que a JB Tintas, empresa com cerca de 50 funcionários, se mantivesse no mercado. Para o gerente da loja, Lindofredo Ribeiro, 39 anos, 2009 foi um período de alerta no qual a empresa ;bateu na trave do vermelho; mas, com a chegada do 13; salário em dezembro e a volta da confiança do consumidor, os negócios começaram o ano no positivo. ;Foi uma luta dura, os clientes ficaram desconfiados com relação à economia e pararam todas as obras que estavam fazendo. No fim do ano, a confiança voltou e somada ao 13; acabou dando tudo certo para gente;, relatou Ribeiro.
Ainda segundo ele, quando a crise realmente se instalou no comércio, no começo do ano passado, a solução foi diminuir as compras com os fornecedores, melhorar a gestão dos estoques e intensificar o pós-venda. ;Se antes fazíamos 10 ligações ao dia para os clientes da nossa agenda, passamos a fazer 60. Ainda assim foi difícil, mas conseguimos vencer. Dos últimos 14 meses, os melhores foram janeiro e fevereiro, quando percebemos que a crise não nos afetava mais;, explicou o gerente.
Além de fevereiro ter sido o melhor mês para as micro e pequenas empresas na série histórica da Serasa, foi também o período com a menor taxa de mortalidade para todos os tipos de negócios no Brasil desde 1992. Apenas 53 falências foram decretadas no mês, uma melhora de 56% frente os números registrados há 18 anos, quando a média se aproximava das 300 em um único mês. ;As estatísticas caíram muito depois da lei de falências. Não existe um número ideal para quanto elas devem cair, quanto menores forem esses índices melhor, significa que a economia vai bem;, advertiu Carlos Henrique de Almeida.
Conceitos
A recuperação judicial é a oportunidade que um empresário tem de negociar suas dívidas com os credores sem precisar decretar falência para que o empreendimento se recupere e não tenha que fechar as portas. Funciona como uma ferramenta semelhante à concordata. A decretação da falência ocorre quando não há possibilidades de negociação ou de pagamento do passivo. Normalmente um caso só chega a essa instância quando a recuperação judicial não deu certo.
Motores
De acordo com um estudo da Kantar Worldpanel (antiga LatinPanel), as classes C, D e E foram o motor deste consumo que impulsionou o reaquecimento da economia. Em 2009, as classes D e E gastaram 21% mais que em 2008. A população na classe C 17% e a AB 14%. O volume médio de itens não básicos comprados pelas famílias para o abastecimento do lar também avançou 15% em 2009 frente a 2008.