Apesar de ruim para as contas externas, janeiro foi melhor do que o Banco Central esperava. Graças ao bom desempenho das exportações, que surpreendeu favoravelmente nas duas últimas semanas do mês, e também à desaceleração das remessas de lucros e dividendos, o deficit em transações correntes ; parte do balanço de pagamentos, que inclui o resultado da balança comercial, serviços e o dinheiro que os brasileiros remetem do exterior ; ficou em US$ 3,841 bilhões. Esse rombo é menor do que os US$ 5,5 bilhões estimados para o mês, embora maior que o ocorrido em janeiro de 2009, de US$ 2,763 bilhões. Os dados do setor externo foram divulgados ontem pelo BC.
Segundo o chefe adjunto do Departamento Econômico do BC (Depec), Túlio Maciel, o aumento do deficit em transações correntes já estava previsto no cenário que a instituição traçou para o ano. Tanto que a projeção feita em dezembro, de um rombo anual de US$ 40 bilhões em 2010 permanece e ele só será revisto ao fim do trimestre, conforme já programado. O que surpreendeu foi que, em janeiro, ele veio menor. ;O desempenho da balança comercial foi favorável, assim como a remessa de lucros e dividendos, que acabou ficando abaixo do previsto em US$ 1 bilhão;, explicou.
O chefe adjunto do Depec disse que a ampliação do deficit em transações correntes reflete o aquecimento da economia, com a ampliação de várias despesas com serviços e viagens internacionais. ;Com situação financeira favorável, os brasileiros gastam mais;, observou. Mesmo assim, Maciel disse que o deficit em transações correntes não é motivo para preocupação. Todo ele será coberto com investimento estrangeiro direto. Para 2010, o BC prevê investimentos diretos de US$ 45 bilhões no país, recursos suficientes para cobrir o resultado negativo estimado para o ano.
Estrangeiro
Mas não foi isso o que aconteceu em janeiro, mês em que o país precisou contar com recursos de mais curto prazo, como investimento em ações e títulos, para cobrir o deficit. O investimento estrangeiro direto foi de apenas US$ 789 milhões, dentro do que o BC esperava (algo em torno de US$ 800 milhões). A conta de capital e financeira entrou com US$ 6,184 bilhões, mais do que suficiente para cobrir o deficit. Para Maciel, o fato de o investimento estrangeiro direto ter sido baixo em janeiro também não deve impressionar ninguém. ;O IED (investimento estrangeiro direto) é muito volátil no mês a mês;, explicou. Para fevereiro, por exemplo, o Banco Central espera um IED de US$ 2,7 bilhões ; já tem US$ 2,3 bilhões contabilizados até o dia 23. Em fevereiro, o deficit em transações correntes deve ficar em US$ 1,9 bilhão.
Em janeiro, por exemplo, o pagamento de juros e a remessa de lucros e dividendos surpreenderam também favoravelmente, ou seja, foram menor do que o esperado. O pagamento de juros no mês foi de US$ 1,903 bilhão (em janeiro de 2009, tinha sido de US$ 1,347 bilhão). Maciel explicou que em janeiro e em junho existe uma concentração de pagamento de juros, principalmente no que diz respeito aos títulos soberanos. As empresas também estão remetendo menos lucros e dividendos, o que pode significar que suas matrizes, no exterior, não estão mais precisando de tantos recursos ou então é já remeteram tudo o que tinham para mandar. Em janeiro, a remessa de lucros e dividendos ficou em US$ 821 milhões. Em janeiro de 2009, tinha sido de US$ 698 milhões e, em dezembro do mesmo ano, de US$ 5,3 bilhões.