A inflação não vai dar sossego ao consumidor tão cedo. Após uma forte aceleração no mês passado, ela deve continuar em alta em fevereiro e março. Algum alívio poderá vir só a partir de abril, quando o impacto dos preços dos alimentos, combustíveis e tarifas públicas tende a diminuir. Em janeiro, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA)(1) foi de 0,75%, o dobro do registrado em dezembro (0,37%) e superior ao do mesmo período em 2009 (0,48%). Foi o maior resultado em 20 meses desde a marca de 0,79% em maio de 2008. Analistas acreditam que o Banco Central (BC) pode antecipar para abril o ciclo da alta de juros para manter o indicador próximo ao centro da meta oficial, de 4,5%.
De dezembro para janeiro, o grupo alimentação e bebidas subiu drasticamente, passando de 0,24% para 1,13%. Com isso, ele foi responsável por um terço do IPCA do primeiro mês do ano. Os produtos que mais subiram foram cenoura (12,21%), batata inglesa (10,80%), açúcar cristal (10,27%) e hortaliças (8,44%). ;As chuvas que estão caindo em boa parte do país diminuíram a oferta de alimentos, o que puxa os preços. Deve haver um resíduo em fevereiro, mas eles devem voltar ao normal a partir de março;, prevê o economista Bernardo Wjuniski, da Tendências Consultoria.
As passagens de ônibus urbanos subiram 3,9% e os combustíveis, 2,08%. Juntos, esses dois itens foram responsáveis por outro terço do IPCA de janeiro. As tarifas públicas foram muito afetadas pelo reajuste de 17,4% nos ônibus em São Paulo, com o preço passando para R$ 2,70. O álcool, influenciado pela entressafra da cana-de-açúcar, ficou 11,09% mais caro, com reflexos sobre a gasolina, que passou a custar 1,33% a mais. O economista-chefe do Banco ABC Brasil, Luís Otávio Leal, projeta a inflação de fevereiro em 0,7%, em especial por causa do transporte no Rio de Janeiro, Porto Alegre e Belo Horizonte.
Remarcações
;A alimentação ainda vai estar pressionando. Por isso, o trimestre vai ser mais inflacionário do que se esperava;, afirma. A passagem de janeiro para fevereiro pode ter sido o pior momento da inflação no ano. Segundo os cálculos de Leal, o IPCA-15, medido entre o dia 15 de um mês e o de outro, deve ficar em 1%. ;Isso não chega a desesperar os diretores do BC, mas é certo que eles já começaram a olhar para o comportamento da inflação neste ano.; O risco maior seria a deterioração das expectativas de analistas e empresários, que pode acender o estopim das remarcações. As próximas pesquisas do BC com as consultorias devem elevar a projeção do IPCA, hoje em 4,62%. Leal aposta em 4,8% para 2010.
A Tendências traçou uma trajetória mais tranquila, com o BC aumentando os juros em 0,5 ponto percentual em setembro, com a taxa básica fechando 2010 em 10% ; hoje, ela está em 8,75%. O BC prevê o início do ciclo de alta da taxa em abril, depois dos sinais emitidos pela ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom). Para Leal, os juros chegariam a 11,25% em dezembro, podendo cair para 10,75% no ano que vem, com inflação no máximo em 4,6%. Em janeiro, Brasília teve inflação de 0,23%, com variação de 0,32% nos alimentos.
1 - 40 salários
Índice oficial para o cálculo da meta de inflação desde 1999, o IPCA mede a variação de preços para as famílias com renda mensal entre um e 40 salários mínimos. Os dados são coletados nas 11 principais regiões metropolitanas do país e levam em consideração nove grupos de despesas: alimentação e bebidas, habitação, artigos de residência, vestuário, transporte, saúde e cuidados pessoais, despesas pessoais, educação e comunicação.