A recente escalada da inflação não incomoda o governo, que não vê no crescimento econômico deste ano qualquer sinal de descontrole que possa gerar pressão sobre o custo de vida. Nesta quarta-feira, ao participar da cerimônia de lançamento de novas cédulas do real, o ministro do Planejamento, Paulo Bernardo, disse que o discurso oficial acerca do crescimento econômico permanece inalterado, apesar do alerta de especialistas, e do próprio Banco Central (BC), de que o aquecimento do consumo é inconsistente com a capacidade produtiva da economia, o que pode gerar distores na inflao.
[SAIBAMAIS]Paulo Bernardo reiterou que a previsão de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) deste ano continua em 5,2% ante 2009. Mas admitiu que o número baixo se comparado ao do BC (5,8%) e ao de analistas de mercado (6%). E explicou por que vê com bons olhos a previso do governo. "Eu considero isso uma coisa normal, porque é uma recuperação do que foi perdido em 2009. Então acho que estamos recuperando terreno, o que é bom, porque o Brasil está fazendo isso sem nenhum tipo de trauma", refletiu o ministro.
Investimentos
Para Paulo Bernardo, as indústrias perceberam que têm que investir mais este ano, o que acabou não ocorrendo em 2009 devido à crise, e isso vai dar uma boa contribuição para a capacidade de produção. "Acho que 2010 vai ser o ano do investimento. Nós vamos ter condições de investir bastante, o governo, as empresas estatais, mas com certeza as empresas privadas vão investir muito este ano. Isso de segurana de que a economia vai crescer sem gerar presso na inflação", ponderou o ministro.
Questionado pelo Correio se o comportamento de indicadores inflacionários vindo acima do teto das previsões não preocuparia o governo, Paulo Bernardo foi peremptério: "Não devemos, de forma alguma, transformar o resultado de um ms em um grfico de um ano, disse, a respeito de alguns desses indicadores estarem em ritmo de crescimento muito maior que o aceitável para esta poca do ano (sazonalidade), comportando-se, inclusive, em patamares maiores dos ltimos sete anos. Sobre as previsões de analistas de mercado, que dão conta que a inflação, ainda este ano, saltará do centro da meta, de 4,5%, Paulo Bernardo respondeu: "Os economistas são excepcionais para dar palpite e geralmente erram. Eu fico espantado".
Divergências
O entendimento de Paulo Bernardo é o mesmo do ministro Guido Mantega (Fazenda), e esbarra no pensamento do presidente do Banco Central, Henrique Meireles, para quem a inflação , é, sim, motivo de preocupao. As divergências na equipe econômica, inclusive, fizeram surgir um temor no mercado de que, já partir de abril, o Comitê de Poltica Monetária (Copom) ter de subir os juros para esfriar o crescimento econômico, o que foi duramente criticado pela Fazenda e inclusive pelo presidente Lula.
Nervosismo
Para Paulo Bernardo, não há disparidade no discurso oficial. "Não estou vendo divergência nenhuma (entre os Mantega e Meireles). Vocês estão completamente enganados. Ás vezes saem declarações dos ministros falando uma coisa e outro enfatizando um outro aspecto, mas isso no quer dizer que tenha divergência", rebateu o ministro, para quem as declarações têm sido utilizadas como desculpa para uma majoração na curva de juros futuros. "Tem um nervosismo evidente em um setor do mercado financeiro que, a qualquer momento, em qualquer frase de um ministro, quer interpretar. Nós temos que ter muito cuidado, porque tem muita gente que faz o jogo financeiro".