Jornal Correio Braziliense

Economia

Ministro Guido Mantega critica Banco Central em reunião de equipe no Ministério da Fazenda

A paz selada no ano passado entre o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, e o ministro da Fazenda, Guido Mantega, foi para o espaço. Assim que voltou de férias, na última segunda-feira, Mantega reuniu seus auxiliares para detonar os sinais emitidos pelo BC de que a taxa básica de juros (Selic) pode subir nos próximos meses para conter pressões inflacionárias decorrentes da forte retomada da atividade econômica. Para Mantega, o BC e o mercado financeiro estão exagerando nas suas projeções de crescimento em 2010 para justificar um aperto na política monetária. O BC projeta expansão de 5,8% para o Produto Interno Bruto (PIB). Entre os analistas, a estimativa é de avanço de 6%.

;São projeções exageradas. Não há superaquecimento da economia. Tudo indica que o PIB crescerá algo próximo de 5%, sem pressões inflacionárias e sem necessidade de aumento dos juros tão cedo;, disse Mantega, segundo relato de auxiliares. O ministro, inclusive, admitiu, pela primeira vez, que o PIB de 2009 foi negativo em até 0,5%, o que minimizaria ainda mais o resultado da economia neste ano ; cresceria sobre uma base muito baixa. Para Mantega, a economia brasileira está, sim, vivendo um ótimo momento, mas sem nenhum sinal de descontrole. Essa tese, acrescentou um dos auxiliares do ministro, foi confirmada pelo mercado formal de trabalho, que abriu, em 2009, menos vagas do que o previsto ; 995,1 mil.

BC CRÊ EM CONSISTÊNCIA
Meirelles aproveitou uma entrevista ontem a jornalistas e a analistas estrangeiros para responder a Mantega. Ao ser indagado sobre a projeção de crescimento de 5,8% para este ano, ele disse tratar-se de um número consistente. Avisou ainda que o BC está atento a qualquer desequilíbrio na economia e que fará o que for necessário para manter a inflação no centro da meta definida pelo governo, de 4,5%. Ou seja, inclusive aumentar os juros. Na opinião de analistas, a alta não virá, porém, na reunião da próxima semana do Comitê de Política Monetária (Copom). Tudo indica que o arrocho começará em abril, possivelmente com Meirelles fora do BC para concorrer a um cargo público. Até lá, enquanto ele decide seu futuro, terá de enfrentar o tiroteio da Fazenda, que, nos bastidores, pode ter o apoio do presidente Lula, empenhado até a alma em fazer da ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, a sua sucessora. (VN)

O número
5,8%
Previsão do BC para crescimento do PIB brasileiro este ano