Jornal Correio Braziliense

Economia

DF registra mais alta inflação do Brasil

Os brasilienses que andam reclamando do elevado custo de vida na capital do país estão cobertos de razão. É o que diz o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Ao consolidar os dados da inflação de 2009, o órgão vinculado ao Ministério do Planejamento constatou que Brasília registrou o maior reajuste de preços do Brasil. Enquanto o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) nacional teve aumento de 4,31%, no Distrito Federal, o salto foi de 4,92%. "Realmente, nos impressionou o resultado da inflação em Brasília", disse a gerente de Pesquisas de Preços do IBGE, Irene Machado. [SAIBAMAIS]Segundo ela, a disparada da inflação na capital federal foi comandada pelas passagens aéreas, com reajuste de 51,39%, e pelas passagens dos ônibus urbanos, com aumento de 20,52%, e dos ônibus interestaduais, com 7,09%. Também pesou no bolso dos brasilienses a elevação de 8,08% dos aluguéis e de 9,07% dos condomínios. "Como esses itens pesam mais no orçamento das famílias de Brasília, nem mesmo o fato de os preços dos alimentos terem sido reajustados em 2,28%, abaixo da média nacional, de 3,18%, foi suficiente para evitar que a capital liderasse o ranking inflacionário do país", afirmou Irene. Pelas suas contas, com os preços das passagens aéreas e de ônibus em disparada, o grupo transportes computou alta de 4,38% em Brasília, quase o dobro da média nacional, de 2,36%. O pior é que, no caso das passagens de aviões, não há perspectiva de recuo. Muito pelo contrário, a tendência é de novos reajustes, pois a demanda por viagens é crescente, sobretudo por causa do maior poder aquisitivo da população. O DF, como bem lembrou a técnica do IBGE, tem a maior renda per capita do país e é o terceiro maior polo recebedor de voos, atrás de São Paulo e do Rio de Janeiro. Crise ajuda Apesar da surpresa negativa provocada pelos fortes reajustes de preços em Brasília, a inflação média do Brasil, de 4,31%, mostrou-se sob controle, encerrando 2009 abaixo do centro da meta, de 4,5%. Em 2008, o IPCA havia subido 5,90%. Parte do recuo da inflação, no entender de Irene Machado, foi fruto da crise mundial, que reduziu o consumo de commodities agrícolas (grãos), mercadorias com cotação internacional exportadas pelo Brasil. "Houve mais sobras de produtos no país. Um exemplo são as carnes, cujos preços encolheram, em média, 5,33%", assinalou. Além disso, houve o impacto nos preços de bens duráveis da redução do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI), para evitar uma recessão mais profunda da economia. Os automóveis novos ficaram 3,62% mais baratos e os preços dos usados recuaram 11,90%. No caso dos eletrodomésticos, a queda chegou a 4,85%. "Não podemos esquecer ainda o efeito da baixa do dólar, que diminuiu em 13,78% o preço da farinha de trigo e em 1,11% o valor do pão francês", destacou Irene. Em compensação, houve um forte aumento, de 9,05%, no preço da alimentação fora de casa. Sozinho, o item alimentação fora de casa deu a maior contribuição para o IPCA no ano: 0,37 ponto percentual. Para a economista Tatiana Pinheiro, do Banco Santander, ainda que a crise tenha ajudado no encolhimento do IPCA, por meio do corte do IPI, que provocou deflação de 2% nos bens duráveis, foi o grupo alimentação, que saiu de uma alta de 11,11%, em 2008, para 3,18% no ano passado, o ponto mais importante para a inflação ter ficado abaixo do centro da meta. Ela ressaltou que, em 2010, mesmo com pressões inflacionárias visíveis, muito provavelmente, o IPCA ficará próximo de 4,5%. "Veremos pressão, principalmente, nos preços dos serviços, que subiram 6,4% em 2009. Por isso, o BC deverá começar a subir os juros a partir do segundo semestre, dos atuais 8,75% para 10,75% ao ano", assinalou.