Jornal Correio Braziliense

Economia

Indústria sofre a 1ª queda após 10 altas

Retração de novembro é fenômeno passageiro e não indica que o setor entrou em um período de resultados negativos

Interrompendo uma sequência de 10 resultados mensais positivos, a produção industrial brasileira registrou em novembro queda de 0,2% na comparação com outubro. O índice, divulgado ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), reflete um tipo de acomodação que é comum depois de longos períodos de altas. Analistas acreditam que a parada estratégica não deverá comprometer o processo de recuperação da indústria (leia texto abaixo). Entre as categorias pesquisadas, bens de consumo duráveis obteve a pior performance (-4,8%) em relação ao mês anterior. André Macedo, economista da coordenação de indústria do IBGE, explicou que o desempenho negativo foi puxado pela produção de automóveis, que caiu 2,2% no mês. Entre os 27 ramos econômicos analisados pelo IBGE, 15 encerraram o mês no vermelho quando comparados a outubro de 2009. O item equipamentos de transporte, que inclui a fabricação de aviões e helicópteros, também registrou queda (-7,2%), assim como o setor de edição e impressão (-2,3%), máquinas, aparelhos e materiais elétricos (-2,9%) e material eletrônico e equipamentos de comunicações (-2,8%). Entre os setores que ampliaram a produção em relação a outubro está o de máquinas e equipamentos (3,9%) e refino de petróleo e produção de álcool (3,5%). Em relação a novembro de 2008, a indústria cresceu 5,1% - há 12 meses, o IBGE vinha apurando resultados negativos. No acumulado de 2009, a indústria amarga uma taxa de -9,3%, e nos últimos 12 meses, -9,7%. Macedo advertiu que o número de novembro não é taxativo, precisa ser lido dentro de um contexto de retomada. "Essa variação negativa, na verdade, deve ser relativizada. Ela não altera a trajetória ascendente do setor industrial quando se observam outros indicadores. É uma acomodação", resumiu. A aposta é que o resultado de novembro não contamine o bom saldo aguardado para dezembro. O Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi) avaliou os resultados da indústria de forma positiva. "Não são de todo ruins e mostram que não há superaquecimento no setor", ressaltou, em nota, a entidade. Para o Iedi, a pesquisa do IBGE reflete uma retração importante ocorrida no setor de bens de consumo, fenômeno que não pode ser desprezado nem supervalorizado. "Nos últimos meses, o segmento de duráveis vem apresentando um comportamento da produção mais errático, com meses em que a produção cresce expressivamente e outros em que há um arrefecimento. O mês de novembro foi marcado por uma queda", completou o comunicado oficial. Otimismo em 2010 Deco Bancillon O arrefecimento da atividade industrial de 2009, que culminou na interrupção de investimentos, não deve se repetir este ano. Sondagem feita pela Fundação Getulio Vargas (FGV) com empresários mostra que o otimismo com a economia será a tônica dos próximos meses. As previsões para investimentos, receitas das empresas e pessoal empregado, em 2010, são todas maiores que as percepções referentes ao ano passado, quando o mundo foi engolido pela mais grave crise econômica em 80 anos. Os dados mostram que a retomada da economia deverá motivar um novo ciclo de expansão da indústria, impulsionando gastos na ampliação dos parques de produção e do pessoal empregado, situação que não ocorreu em 2009. "Os resultados indicam forte retomada do investimento, que só será menor comparado a 2008 e 2005. Tudo isso leva a crer que 2010 será um ano de bastante otimismo na indústria", avalia o coordenador técnico da Sondagem Industrial da FGV, o pesquisador Jorge Braga. O indicador é feito a partir de questionários respondidos por empresários do setor. Em outubro do ano passado, 48% deles disseram que pretendem investir mais em 2010 do que investiram em 2009. Respondendo à mesma pergunta, 17% disseram que iriam investir menos do que em 2009, proporcionando um saldo positivo de 31 pontos percentuais. Para se ter uma ideia, a média dos últimos quatro anos, excluindo 2008, que teve o melhor resultado da série, foi de um saldo de 12,2 pontos.

Ouça áudio com o pesquisador Jorge Braga, coordenador da Sondagem Industrial, da FGV