O titular do Banco Central da Argentina (BCRA), Martín Redrado, recusou-se a se afastar do cargo, apesar do pedido feito pela presidente Cristina Kirchner, que reprova a demora do BCRA em pôr à disposição do governo um fundo de 6,5 bilhões de dólares de reservas monetárias do país para o pagamento da dívida pública em 2010. Redrado recusa-se a obedecer, invocando a autonomia de sua instituição em relação ao poder executivo.
[SAIBAMAIS]
O Banco Central (BCRA) é uma instituição autônoma e seu titular deve contar com a concordância do Congresso para assumir o cargo, como aconteceu com Redrado em 2004, durante o governo de Néstor Kirchner (2003-2007), marido da presidente.
As reservas do Banco Central da Argentina somam mais de 48 bilhões de dólares. Segundo a versão do governo, se não prosperar a criação do fundo para o pagamento da dívida, a Argentina se verá obrigada a recorrer a créditos internacionais pagando altas taxas de juros, uma vez que ainda mantém parte de sua dívida em moratória, depois do default declarado em 2001.
"Pediram que renunciasse ao cargo. Respondeu que não e que, de qualquer forma, seja aplicado o artigo 9 da Carta Orgânica do Banco Central dispondo que o assunto passe por uma comissão bicameral do Congresso", disse à AFP uma fonte da autoridade monetária, que pediu para não ter o nome divulgado.
"Por pedido expresso da presidente Cristina Kirchner, o chefe de Gabinete (Aníbal Fernández) pediu a renúncia do titular do Banco Central", afirma um texto divulgado no site presidencial.
O cargo chegou a ser oferecido a Mario Blejer, que ocupou a função no governo de Eduardo Duhalde (2001-2003), durante a pior crise econômica das últimas décadas. Redrado conta com a aprovação do Senado até o mês de setembro em suas funções de titular do Banco Central.
Ao anunciar que os 6,5 bilhões de dólares das reservas serviriam para pagar a dívida em 2010, o governo pretendia tranquilizar os mercados sobre sua capacidade de honrar o débito.
Buenos Aires havia sido excluído dos mercados de capitais em dezembro de 2001, quando o Estado argentino, em plena desconstrução econômica, decidira interromper o pagamento da dívida privada. Mas, em princípio, o governo não pode dispor das reservas de uma instituição autônoma e a medida pode trazer muitos riscos.
Credores privados, chamados "holdouts", que recusaram o acordo de renegociação da dívida de junho de 2005, poderiam, por exemplo, ser tentados a apoderar-se das reservas do Banco Central se elas forem destinadas a pagar a dívida pública.
Em 2005, durante o governo do esposo da presidente e líder peronista, Néstor Kirchner (2003-2007), foi aberta a troca da dívida para pôr fim à maior moratória unilateral da história, no valor de 90 bilhões de dólares.
A troca da dívida, que impunha juros de até 75% do valor nominal, teve uma adesão de 76,15%, mas os possuidores de bônus, que rejeitaram a oferta, poderão somar-se ao processo atual.