Há três décadas, o economista e historiador americano Jordan Young cunhou uma expressão que marcaria gerações, para o bem e para o mal: ;Brasil, a força emergente do futuro;. A esperança que deu base a esse pensamento sustentou uma era, denominada de milagre econômico, mas acabou atropelada por sucessivas crises cambiais, calotes do setor público e um processo hiperinflacionário que levou o Brasil a se tornar um dos países mais desiguais e injustos do mundo. Às vésperas, porém, de entrar em um período eleitoral, em que, mais uma vez, os brasileiros terão a oportunidade de escolher democraticamente um presidente da República, finalmente o futuro parece bater às portas do país.
Se as estimativas de economistas do governo e do setor privado se confirmarem, o Brasil viverá, nos próximos 20 anos, um processo semelhante ao observado nos Estados Unidos no início do século passado, quando foram alçados à condição de potência. Veremos uma mobilidade social sem precedentes ; em 2030, projeta o Banco Santander, o Produto Interno Bruto (PIB) per capita do país, a soma de todas as riquezas produzidas pelo país, ficará acima de US$ 30 mil, patamar de Primeiro Mundo ;, com oportunidades de enriquecimento da população tanto por meio do trabalho quanto pelo empreendedorismo. Em vez de inflação, juros e câmbio, um debate(1) produtivo deve ser centrado nas necessidades de melhorias de educação, saúde, segurança e infraestrutura, como mostrará, a partir de hoje e ao longo dos próximos dias, uma série de reportagens preparadas pelo Correio, voltadas para a área econômica.
Com a renda em alta e mais acesso a crédito e a serviços, os brasileiros ficarão mais exigentes. Gerações que não têm a menor ideia do que é descontrole de preços não aceitarão sequer discutir a estabilidade econômica. Portanto, está nas mãos do próximo presidente levar adiante a construção do Brasil que todos anseiam. A pavimentação para isso levou pelo menos 15 anos. ;Não há como ter retrocesso. O Brasil mudou, e para melhor;, diz Patrícia Bentes, sócia-diretora da Consultoria Hampton Solfise. ;Teremos um país crescendo próximo de 5% ao ano, com inflação sob controle, juros em baixa e distribuição de renda. Será o Brasil do bem-estar social;, acrescenta o secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda, Nelson Barbosa.
Mas há muito o que avançar. O número de veículos licenciados no Brasil está em 0,25 per capita, o mesmo índice computado nos EUA dos anos 1940. O total de pessoas que viajam por ano de avião corresponde a 25% da população, a mesma faixa dos Estados Unidos de 1950. O número de lares com telefone fixo no país é de 74,5%, patamar do país norte-americano no fim da primeira metade do século passado. Já o total de domicílios com televisão, de 93%, é o mesmo observado na economia mais rica do planeta nos anos 1960.
;Não é à toa que os olhos do mundo estão todos voltados para o Brasil. Seu potencial de crescimento é enorme. Tanto que, apenas nos últimos seis anos, mais de 30 milhões de pessoas ; quase a população da Espanha ; foram incorporadas à classe média. Outras 20 milhões saíram da pobreza. Imagine o que acontecerá daqui por diante, se mantida a política econômica responsável, baseada no tripé metas de inflação, câmbio flutuante e superavit fiscal;, afirma o economista Rodrigo Ventura, da consultoria Macroplan. ;Veremos uma revolução;, emenda Flávio Serrano, economista do Banco BES Investimento.
Olhando para frente
As pessoas que ascenderam socialmente passaram a ter crédito. Puderam, num primeiro momento, satisfazer as necessidades básicas. Agora, estão comprando carros. Depois, será a vez da casa própria. ;É justamente esse movimento de consumo que estimulará uma revolução cultural. Ao constatar que pode melhorar de vida e ter acesso a bens de consumo mais caros, a população ficará mais exigente em relação ao governo. Passará a cobrar serviços melhores como contrapartida aos impostos que paga. Uma sociedade mais exigente obriga os governos a serem mais eficientes;, ressalta o economista-chefe da Concórdia Corretora, Elson Teles.
Para Cristiano Souza, economista do Banco Santander, por estarem saboreando os frutos da estabilidade, os eleitores não permitirão extravagâncias nas discussões que permearão a campanha política de 2010. ;O nível de exigência em relação às propostas dos candidatos será muito maior. Ninguém vai querer olhar para trás. A cobrança será sobre o Brasil que nos aguarda. Os investimentos públicos serão de qualidade? A educação vai melhorar? O sistema de transporte urbano atenderá as nossas necessidades? Os hospitais darão atendimento dignos? As pessoas poderão transitar livremente pelas ruas sem temerem a violência? São respostas para essas questões que todos anseiam;, destaca.
Na avaliação no economista Régis Bonelli, da Fundação Getulio Vargas (FGV), mesmo temas de pouco apelo popular, como as reformas tributária, da Previdência Social, trabalhista e fiscal, vão entrar na pauta de debates, devido à capacidade de ampliar o potencial de crescimento do país. ;Por mais que caminhemos para uma campanha plebiscitária, com comparações entre os governos Lula e Fernando Henrique Cardoso, a população cobrará propostas para avanços, para novas conquistas;, diz Newton Rosa, economista-chefe da Sul América Investimentos. ;Será o amadurecimento de 20 anos de democracia;, complementa Sílvio Campos Neto, economista-chefe do Banco Schahin.
1- Comparação
Em 1989, na primeira eleição direta pós-redemocratização, o debate entre os candidatos esteve calcado na consolidação da democracia e no combate à inflação. Em 1994, as atenções estiveram voltadas para as conquistas do Plano Real e a consolidação das liberdades políticas. Em 1998, questões macroeconômicas, como o câmbio e as crises externas, lideraram as discussões. Em 2002, focou-se na incerteza do que seria um governo comandado pelo PT. Em 2006, mesmo com a administração Lula abalada por denúncias de corrupção, pesaram as conquistas da estabilidade econômica, com melhoria da renda e do emprego. Agora, o desafio será garantir um futuro melhor, pois não há mais espaço para frustrações.