A internet deixou de ser somente uma ferramenta de comunicação ágil e que leva informação a todos os cantos do planeta. Além do e-comerce e do mercado publicitário virtual, ganham-se bilhões na web em um comércio clandestino de dados bancários e golpes financeiros. O negócio chega a movimentar US$ 1 trilhão por ano em todo o planeta, segundo cálculos da empresa de software e segurança na internet McAfee. A principal isca para enganar os usuários está no espírito natalino, época em que chega a movimentar 70% dessa economia paralela. As armadilhas para angariar a maior parte desses recursos se resumem nos 12 golpes natalinos (leia quadro abaixo), título de um estudo que relata o funcionamento desse mercado e ensina a escapar das ciladas.
O meio mais usado pelos criminosos são os spams ; e-mails não solicitados que são enviados a um grande número de pessoas. No Natal, os hackers aproveitam a boa vontade das pessoas e enviam mensagens falsas, de instituições beneficentes, e solicitam doações. Outro golpe comum no período é o das ofertas mentirosas, no qual uma página eletrônica oferece produtos, como computadores e joias, por 30% do preço. O consumidor compra, mas não leva, e ainda tem os dados bancários furtados. ;Esse é um golpe eficiente, de baixo custo, dispara milhões de e-mails em segundos, atingindo uma área enorme do planeta;, explicou o gerente de suporte técnico da McAfee para América Latina, José Matias.
Fraude
Neste Natal, o hacker Noel tem distribuído um e-mail com o título ;seu bônus fidelidade TAM;, no qual informa que o consumidor tem direito a uma viagem de ida e volta para qualquer lugar do país, de graça. Todos os elementos visuais da mensagem são idênticos aos utilizados pela companhia aérea. O problema é que nunca foi mandado por ela. Assim que soube da falsa promoção, a TAM divulgou que se trata de uma fraude. ;É preciso bom senso. Não se pode sair clicando em qualquer link sem saber de onde ele veio. Nem acreditar em ofertas absurdas, se não está participando de promoções;, aconselhou o diretor da consultoria e-bit, Pedro Guardi.
Esses tipos de e-mails são tão perigosos que, segundo levantamento da McAfee, os prejuízos causados à empresas atingem, em média, U$$ 182 mil ao ano, só com spams. ;Se calcularmos para uma empresa de mil empregados, os prejuízos podem somar U$$ 41 mil para cada 1% de spams que esses funcionários recebem;, calcula Matias.
Assédio
A maior dificuldade em combater os spams está na forma como se espalham e na velocidade ; correspondem a 83% de todas as mensagens enviadas pela internet. São 150 bilhões em um mês, o que equivale a 30 por dia para cada habitante da terra. Somente nos Estados Unidos, os prejuízos com ataques de hackers, de diversos tipos, somaram U$$ 8 bilhões entre 2007 e 2008. ;Às vezes, o varejo é quem sofre mais assédio visando dados financeiros, além de ataques de consumidores fantasmas;, alertou Guardi.
O cibercrime se profissionalizou a tal ponto que existem dois filões de mercado. Um em que são furtadas informações bancárias apenas para aplicar golpes e ganhar dinheiro e outro em que o criminoso pega as informações, realiza um leilão na internet e vende os dados para outros hackers praticarem crimes. ;Hoje, você consegue entrar em um site de leilão e comprar uma informação por US$ 0,50 (lance mínimo). É um elo importante da cadeia produtiva do crime;, alerta Matias.
Momento arriscado
De acordo com especialistas, o mês de dezembro é o preferido pelos criminosos para praticar crimes contra consumidores e instituições pela internet. Com a maior quantidade de dinheiro circulando no mercado, devido às férias e ao 13; salário, as pessoas ficam mais dispostas a gastar e os bandidos aproveitam para ganhar dinheiro fácil. A dica é não acreditar nas promessas da web, não fazer doações por ela nem comprar em portais desconhecidos. Nos sites da e-bit e do Buscapé é possível encontrar uma lista de lojas virtuais que cometeram algum tipo de crime. Outra dica é nunca clicar em links desconhecidos.
Área de zumbis
O Brasil também tem sua parcela de colaboração no trilionário negócio dos crimes pela internet. Especialistas identificaram o Rio de Janeiro como a cidade com o maior número de ;máquinas zumbis; do mundo ; computadores que são infectados e ;controlados por um mestre; para efetuar ataques a consumidores, lojas e instituições financeiras. ;É uma rede de 40 mil computadores no Rio, a maioria de usuários comuns que nem sabem que seu computador é manipulado;, afirmou o gerente de suporte técnico da McAffe para América Latina, José Matias.
Na maioria dos casos, nos crimes bem elaborados, não é possível descobrir nem mesmo se o hacker é brasileiro. Para alguns especialistas, a cidade maravilhosa é um dos principais pontos de onde saem ações contra várias partes do mundo. Quando a internet começou a se popularizar no país, há 10 anos, ataques a outros computadores ainda eram brincadeiras de adolescentes. Hoje, 85% têm motivação financeira.