Jornal Correio Braziliense

Economia

Ceia de Natal vai ser a mais farta e barata dos últimos quatro anos

A ceia de Natal vai ser a mais farta e barata dos últimos quatro anos, segundo estudo da Fundação Getulio Vargas (FGV). Em 12 meses, os preços de alguns dos principais produtos a compor a mesa do consumidor caíram. A carne, item de maior peso nas compras, recuou, em média, 7,2% no período. O alívio no bolso do brasileiro foi motivado por um dólar desvalorizado frente ao real, o que barateou os importados. Houve ainda um aumento na oferta doméstica de produtos, causada por uma super safra e queda nas exportações. A inflação para os itens do jantar natalino subiu menos. No acumulado dos últimos meses ficou em 4,76% - cerca de metade do registrado em períodos anteriores. As quedas de preços mais expressivas foram as do bacalhau (-17,09%), arroz branco (-16,84%) e frango (-6,13%). Em uma lista de 14 produtos pesquisados pela FGV, oito ficaram mais em conta e quatro mais caros, mas bem inferior à inflação. "Acho que esse índice está baixo. Do início da crise para cá, o cenário está mais promissor. Com certeza, esse Natal vai ser mais barato que os outros", afirmou o economista da FGV responsável pelo estudo, André Braz. Bacalhau a "preço de banana" A pastora Lourdes Lopes, 40 anos, vai fazer uma ceia para a família e mais 300 pessoas da igreja. Para não estourar o orçamento, está pesquisando no comércio de Brasília. "A dica é bater muita perna. Estou comparando preços de diversos mercados e já vi que vai dar para montar uma ceia bem mais barata este ano", afirmou. Segundo ela, o preço das carnes está menor e com a diferença vai ser possível aumentar os itens do jantar natalino. Ao comparar a lista de compras de 2008 com a de 2009, aponta o azeite e o pernil suíno como os que apresentaram os maiores recuos. "Está valendo a pena comprar", disse. Segundo a FGV, Lourdes está certa, o azeite recuou 5,94% em 12 meses e o pernil ficou 6,57% mais barato. Os únicos vilões da lista foram a batata inglesa ( 85,60%) e a couve ( 7,82%) - com crescimentos acima da inflação. No Natal 2009, o brasileiro terá mais alimentos importados em casa. Com a queda do dólar, que se desvalorizou em cerca de 29% desde que atingiu o pico, uma variedade maior de alimentos vindos de fora, a um preço menor, inundou as prateleiras dos supermercados. "Teremos bacalhau para todos os bolsos neste ano", disse o economista da FGV André Braz. A aposentada Oneida Silva Matos, 76, reforça: "O preço do bacalhau está muito bom. Por mim, comprava só ele, mas nem todo mundo gosta". Além do peixe, outras carnes vão compor a ceia de Natal da aposentada, como o frango, o pernil e o lombinho suínos - produtos que registraram recuos nos preços por causa de uma queda na exportação. Por causa da crise econômica, entre janeiro a outubro deste ano, o país vendeu ao exterior 14,96% menos carne do que em igual período de 2008. O mercado interno acabou beneficiado, os preços caíram e o consumidor aproveitou. Outros itens também acabaram influenciados pelo fenômeno. Além disso, conforme dados da Associação Brasileira das Indústrias da Alimentação (Abia), em 2009, o Brasil registrou uma expansão de 0,93% na produção de alimentos. Competição Marcelo Waideman, economista-chefe da consultoria Gouvêa de Souza, especializada em varejo, explicou que o aumento da competição entre os supermercados jogou a favor dos clientes neste ano. O Natal, segundo o analista, é o momento que as companhias tanto esperavam para consolidar no mercado seus produtos ou suas estratégias. %u201CFoi um ano surpreendente para o varejo. O avanço da classe C e a concorrência estão impulsionando o fim de ano%u201D, completou Waideman. (VM e LP) INFLAÇÃO MAIOR PARA POBRES A inflação para as famílias que ganham até dois salários mínimos e meio aumentou. O Índice de Preços ao Consumidor Classe 1 (IPC-C1) registrou variação positiva de 0,23% em novembro. Apesar da alta, no acumulado de 12 meses, a taxa ficou em 4,11%, número inferior à inflação para todos os brasileiros (4,23%). A alta foi puxada pelos alimentos in natura. Hortaliças e legumes (passaram de 2,49% para 6,81%) e frutas (de -6,53% para 2,57%) obtiveram as altas mais expressivas. De acordo com a Fundação Getulio Vargas, se esses itens fossem excluídos do índice, a variação teria sido negativa em 0,21% - o que significa que outros alimentos e produtos estão mais em conta. De acordo com André Braz, economista da FGV, não há motivo para preocupação, a inflação não está disseminada por todos os produtos. (VM) Ouça entrevista com André Braz, economista da FGV