Jornal Correio Braziliense

Economia

Empresas começam a investir em questões ambientais antes de começarem empreendimento

Companhias se conscientizam de que é melhor resolver problemas antes do início das obras do que bancar prejuízos com a paralisação

As empresas devem evitar ao máximo enfrentar processos de judiciais, que sempre acabam em suspensão das obras e resultam em custos que podem inviabilizar os empreendimentos. A dica é da Diagonal Urbana, consultoria que há 10 anos atua no mercado elaborando diagnósticos de projetos sustentáveis. O receituário é simples: investir em empreendimentos que levem em conta os impactos no meio ambiente, que tragam benefícios para a população desalojada dos locais onde ocorrerão as obras e reduzam os confrontos com os moradores locais, tornando-os aliados das companhias - um ganho e tanto para a imagem dos projetos. Um dos exemplos mais emblemáticos é o Rodoanel, em São Paulo. Antes de contratar a Diagonal, as obras foram embargadas pela Justiça. Ao fazer o diagnóstico sócio-econômico e ambiental da região onde o empreendimento estava sendo construído, a Diagonal constatou que valia a pena fazer o assentamento de todas as famílias que ocupavam a área, o que corresponderia a apenas 1% do valor total da obra. A transferência dos moradores foi feita, acabando com o litígio. Mas, para cada projeto, há um diagnóstico específico. Um estudo de uma região não serve para outra, observa Kátia Melo, co-presidente da Diagonal Urbana. No caso do Rodoanel, por exemplo, não importava se as famílias estavam ocupando uma área irregular. As casas foram avaliadas e as pessoas tiveram a opção de ser indenizadas ou de mudar para o conjunto popular que estava sendo construído para o reassentamento. Com um detalhe: as casas foram construídas por uma cooperativa dos próprios moradores, levando em conta as características e as necessidades de cada família. "A nossa proposta é contribuir para o poder público, a empresa e o desenvolvimento territorial sustentável. O importante é que a infraestrutura criada seja, de fato, vetora do desenvolvimento regional, principalmente no entorno das obras", avalia Kátia Melo. Isso porque, explica a executiva, existe sempre um grande embate entre desenvolvimento e realidade social, pois empreendimentos de infraestrutura têm impactos positivos e negativos. "Temos que aproveitar os investimentos como oportunidade de inclusão social e construir pacotes que conciliem os mais diversos interesses", observa. Mineração e energia Pois foi o que fez a Vale no Sudoeste do Pará, onde a mineração tornou-se um pilar do desenvolvimento regional. Lisel Filgueiras, gerente-geral da Fundação Vale, conta que, ao mesmo tempo em que a empresa desenvolvia seus projetos, usou ferramentas para mapear os indicadores locais e fazer projeções. "A partir disso, passamos a elaborar planos de gestão integrada. Calculamos o déficit de infraestrutura, segurança e educação, para ver quanto a gente ficaria responsável e fazer uma parceria com o poder público e a sociedade civil", comenta. O objetivo, segundo Lisel, é deixar um legado para as gerações futuras quando a atividade mineradora se esgotar. "Fazer investimentos dessa forma não é necessariamente mais caro. Se a infraestrutura melhora, é uma situação de ganha-ganha", ressalta. Os reflexos, porém, são mais amplos do que se imagina, diz João Jaime Almeida Filho, diretor da Diagonal. Entre 2000 e 2008, a Região Norte registrou crescimento de 20,5%, a arrecadação de tributos saltou de R$ 1,1 bilhão para R$ 3,4 bilhões e o saldo de empregos diretos e indiretos, de 10 mil para 35 mil. "Essa economia é tão dependente dessa atividade (mineradora), que não pode prescindir dela", frisa. A Petrobras já segue a linha de investimentos receitada pela Diagonal há tempos, diz Luís César Stano, gerente em Segurança, Meio Ambiente e Saúde da companhia. Ele lembra que, em Urucu, na Floresta Amazônica, devido às peculiaridades da região, a estatal desenvolveu, há 10 anos, um modelo específico de tratamento de resíduos e efluentes. "Também deu-se prioridade à mão de obra da região. Investimos na educação das pessoas e tocamos um projeto de reflorestamento", frisa. "Foi um grande desafio, pois é uma área visada no mundo todo. Não tínhamos o direito de errar", afirma. Todas as atenções, agora, estão voltadas para a construção da refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco. Na GDF Suez, a ordem é ir além das obrigações estabelecidas pelos órgãos governamentais. Tanto que, na construção da hidrelétrica de São Salvador, 116 famílias foram incluídas no programa de moradias, somando-se às 255 previstas no projeto original. A preocupação é manter as famílias na região, evitando a migração para a cidade, dando-lhes meios de subsistência ao se criarem microeconomias autossustentáveis. Para Gil Maranhão, diretor de negócios e de sustentabilidade da companhia, só há duas formas de se fazer investimentos: "Ou se faz muito bem ou muito mal".