O Fundo Monetário Internacional (FMI) está preocupado com a forte entrada de dinheiro nos países emergentes. Teme que uma retirada rápida provoque uma crise cambial de fortes dimensões. É a mesma preocupação que fez o governo brasileiro criar uma taxa de 2% sobre o capital que pode ter característica especulativa. Segundo o diretor-gerente do FMI, Dominique Strauss-Kahn, os fluxos de capital para mercados emergentes refletem as perspectivas positivas para essas economias, mas eles podem desestabilizar as moedas e os preços dos ativos.
"A volta dos fluxos de capital para os emergentes representa desafios políticos", diz Strauss-Kahn. "Embora os fluxos de capital sejam geralmente benéficos, eles podem gerar riscos de movimentos rápidos e potencialmente desestabilizadores". O desafio político estaria em tomar medidas que podem ter efeitos pouco populares. Ele entende que os formuladores de política têm várias ferramentas para conter efeitos ruins. "Elas incluem apreciação cambial, política fiscal apertada e, quando for apropriado, juros menores". No caso brasileiro, uma política fiscal mais apertada é pouco provável em um ano eleitoral, como 2010. Juros menores são difíceis no momento, pois dependeriam de uma contenção de gastos governamentais que ajudasse a derrubar a inflação ainda mais.
Strauss-Kahn abandonou, nos últimos dias, o discurso de tom extremamente cuidadoso, mas ainda está longe das palavras otimistas. Para ele, o ritmo da recuperação da economia norte-americana continuará lento, mas será o suficiente para evitar uma recaída na recessão. O dirigente acredita que os estímulos econômicos da China estão ajudando a reequilibrar a sua economia, no sentido de confiar mais na demanda doméstica. Entretanto, o país precisaria deixar sua moeda se valorizar mais ao longo do tempo.
Em outubro, o FMI subiu suas perspectivas de crescimento para a economia dos Estados Unidos para 1,5% em 2010, mas Strauss-Kahn já admite que essa previsão pode ser pessimista. "Nossa previsão é de que, não só nos Estados Unidos, mas também para o mundo, 2010 vai ser um ano de recuperação. Eu preciso dizer que, em alguns casos, nós fomos um pouco pessimistas porque o crescimento tinha voltado mais cedo que o esperado, por volta de um trimestre".
Ele entende que o dólar permaneceu resistente ao longo da crise global em relação a algumas moedas, mas tem citado uma em especial, pedindo que iuan - moeda chinesa - recupere seu valor. O governo chinês tem absoluto controle sobre o valor da moeda e sinaliza que pode ser flexível. O Fundo Monetário Internacional não acredita que o papel do dólar norte-americano esteja diminuindo. Para a instituição, a reduzida poupança nos Estados Unidos forçará países emergentes, como a China, a encontrar novos motores de crescimento. À medida que os norte-americanos pouparem mais, haverá redução dos deficits fiscal e de conta corrente nos EUA.
Segundo o FMI, os formuladores de política monetária devem considerar formas de fazer a transição de um sistema monetário centrado no dólar para um com reservas cambiais mais variadas.
Para amenizar a demanda por reservas, os formuladores de políticas monetárias poderiam testar algumas alternativas, como garantias de terceiros e um sistema em que os países poderiam, em última instância, pegar empréstimos de reservas globais. A função de financiador de última instância poderia ser do FMI, mas somente se tivesse recursos muito maiores, de pelo menos US$ 1 trilhão.