Os últimos dois meses de 2009 chegam carregados de expectativa para os varejistas. Segundo entidades representativas do setor, este será o Natal da recuperação(1), um contraponto às festas de fim de ano em 2008 ; período de início da crise econômica em que as vendas registraram recuo de 1% frente 2007. A expectativa da Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) é sair desse desempenho negativo e atingir em 2009 expansão de 9% do faturamento. Em algumas capitais do país, como Brasília e Belo Horizonte, espera-se o melhor período natalino dos últimos 10 anos. Tamanho otimismo fez o comércio aumentar também a quantidade de trabalhadores temporários em 6,5%, ao ampliar o número de vagas de 123 mil postos para 131 mil.
A justificativa para a euforia é lastreada nos indicadores econômicos que demonstram o reaquecimento da economia. A ampliação do volume de crédito no país foi de sete pontos percentuais em doze meses, que atingiu em setembro 45,7% do Produto Interno Bruto (PIB, soma das riquezas produzidas no país) e que pode aumentar ainda no último trimestre. Em outra ponta, a taxa média de juros para pessoas físicas caiu 14,3% no período de um ano e alcançou o menor patamar desde 1995, ficando em 43,6% ao ano em setembro. Outra boa notícia é que os empregos perdidos com a crise foram recuperados, segundo dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged). E o rendimento real do brasileiro avançou 1,9% em setembro frente igual mês de 2008, no início da crise. ;Esse cenário é muito melhor do que o que tivemos no Natal de 2008. Com todos esses indicadores, o comerciante está disposto a parcelar e facilitar as vendas;, afirmou o presidente do Serviço de Proteção ao Crédito (SPC), Roberto Alfeu Pena Gomes.
De acordo com levantamento da Associação Brasileira de Lojistas de Shopping (Alshop), o brasileiro realmente está disposto a comprar e deve dar, em média, 25 presentes. Este é o caso da servidora pública Natacha Dantas Varella, 39 anos, que presenteia toda a família no Natal e deve extrapolar a média brasileira. ;Realmente, sou muito consumidora, dou muitos presentes;, disse. Esse ano ela presenteará 10 irmãos, 15 sobrinhos, os filhos, o marido e alguns amigos. ;Acho que compro em média uns 100 presentes todos os anos. Começo a me preparar já em outubro para o Natal, minha família tem o hábito de trocar lembrancinhas;, justificou a servidora pública.
A dona de casa Luciléia da Silva Nogueira, 38 anos, também começou a fazer a lista de presentes. Segundo ela, todos os anos reserva dinheiro para comprar muitas roupas e sapatos para ela mesma no Natal. Além dos agrados que compra para si, deve alegrar os oito sobrinhos com brinquedos. ;Para comprar tudo isso é preciso começar a poupar já em março;, afirmou Luciléia.
Aceleração
O último dado positivo da economia foi a Pesquisa Mensal do Comércio, divulgada ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que mostra que o volume de vendas em setembro aumentou em 0,3% na comparação com agosto. O número é menor que o de 0,4% esperado pela Confederação Nacional do Comércio (CNC), ainda assim, com o desempenho do mês, a entidade elevou de 5% para 5,1% a projeção de crescimento para o setor no ano. ;Mas, dependendo de como o crédito se comportar em novembro e dezembro, esse número ainda pode ser revisado para cima;, disse o economista da CNC Fábio Bentes. ;Esperamos que com as vendas de Natal esse índice aumente mais;, emendou.
Para Fábio, a retomada do comércio começou em fevereiro. Ele classifica o Natal não mais como o de recuperação, mas como o de aceleração das vendas. Segundo a CNDL, esse dezembro só deve perder, em termos percentuais, para o de 2007, quando houve alta de 11 pontos percentuais em relação a 2006. ;Estamos extremamente otimistas. Teremos a redenção das perdas do ano passado;, disse o presidente da CNDL, Roque Pellizaro.
1- Indicador
As vendas de papelão ondulado bateram em outubro um recorde mensal, com a expedição de 223,8 mil toneladas, segundo a Associação Brasileira do Papelão Ondulado (ABPO). O setor é um dos mais fieis indicadores antecedentes da economia, pois envolve material usado em embalagens. Indica que as vendas em geral continuarão aquecidas este mês e em dezembro.
; Melhor ano pela internet
As lojas virtuais também esperam ter um ótimo desempenho em 2009. Em volume de vendas, será o melhor Natal desde 2004 para esse segmento de varejo, quando a e-bit, empresa de informações de comércio eletrônico, começou a fazer o levantamento das vendas no período. A estimativa é que neste ano as vendas fiquem em R$ 1,63 bilhão, valor 30,4% superior ao registrado em igual período de 2008, quando o segmento alcançou R$ 1,25 bilhão.
Em plena crise, no ano passado, o comércio eletrônico conseguiu vender no período de Natal 15,7% mais que em 2007. ;É um setor em expansão. Crescemos em média 40% ao ano desde 2004;, disse o diretor geral da e-bit, Pedro Guasti. Segundo ele, enquanto o Brasil registra incremento nas vendas natalinas, nos Estados Unidos, um mercado virtual consolidado que ainda amarga os efeitos da crise, vai haver uma queda de 6% no comércio eletrônico.
Os livros lideram o ranking de produtos mais procurados, seguidos por eletrônicos, produtos de informática, saúde e telefonia. O valor médio do consumidor virtual está estimado em R$ 340. As compras de fim de ano nas lojas virtuais começam em 15 de novembro e tem o fluxo de compras em 16 de dezembro.