A internacionalização da economia chegou de vez ao setor público. Empresas estatais com pouca ou até nenhuma atuação no mercado externo há poucos anos estão conquistando um espaço maior em diversos países do mundo. Eletrobrás, BNDES e Caixa Econômica Federal experimentam agora o caminho já trilhado por Petrobras, Embrapa e Banco do Brasil há muito tempo. Nem mesmo a crise mundial está sendo obstáculo para a busca de oportunidades no exterior. Na semana passada, a Caixa inaugurou um escritório na Venezuela. Esta semana, no dia 4, é a vez do BNDES abrir as portas de sua unidade em Londres, na Inglaterra. E, mais um vez, com a presença do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
;Nossa ida para o exterior está diretamente relacionada à internacionalização das empresas brasileiras;, afirmou Leonardo Botelho, chefe do Departamento da Área Internacional do BNDES. Além de Londres, o banco já havia aberto, no fim de agosto, o seu primeiro escritório fora das fronteiras brasileiras. Em 27 de agosto o banco estatal iniciou suas operações em Montevidéo, capital do Uruguai. ;Essa representação visa a apoiar o Mercosul e as operações das empresas na América do Sul;, disse ele.
Diversificação
Botelho contou que desde 2002 o banco está autorizado a financiar operações de empresas brasileiras em outros países. ;Verificamos o crescimento do desembolso para o exterior. Em paralelo, percebemos que outros bancos de desenvolvimento são bastante internacionalizados, acompanhando o movimento das empresas de seus países. As instituições financeiras japonesas, por exemplo, têm escritórios no Brasil desde os anos 70;, ponderou. Então, o BNDES desenhou seu projeto para a área internacional, com foco nas Américas do Sul e Central, e na África. ;Vamos apoiar as empresas e identificar oportunidades. Em Londres, nosso foco está no mercado financeiro, com produtos diversificados;.
A Eletrobrás foi autorizada a operar no exterior em 2008, mas a preparação para atuar fora das fronteiras brasileiras começou três anos antes, como conta o superintendente de operações internacionais da Eletrobrás, Sinval Gama. ;Precisamos identificar gargalos, limitações, tudo para fortalecer a empresa e melhorar seu desempenho, o que se refletiria no resultado da companhia;, disse. Um mapeamento mostrou que das dez maiores empresas de energia do mundo, sete tinham atuação em mercados internacionais.
;Fizemos um planejamento e definimos nossos alvos: mercados de transmissão e geração de energia hidrelétrica de grande porte nas Américas ; Sul, Central e Norte;, contou Gama. ;Isso não significa que um negócio fora de nosso foco não será analisado. Mas vamos concentrar nossa prospecção nos mercados que escolhemos;. Dessa forma, a empresa já está presente em sete países, desenvolvendo atividades na Nicarágua, Venezuela, Guiana, Peru, Uruguai, Argentina e na fronteira de Angola e Namíbia. Além disso, segundo Gama, a Eletrobrás está acompanhando as oportunidades na área de transmissão nos Estados Unidos. ;Lá vai ter que ter uma grande expansão das linhas de transmissão. O governo está reformulando a matriz energética e haverá oportunidades. Estamos atentos;, concluiu.
Já a Caixa, que acabou de abrir um escritório em Caracas, na Venezuela, deu seu primeiro salto, instalando estrutura física no exterior, no início de 2007, quando inaugurou sua representação em Hamamatsu, no Japão. Poucos meses depois, foi a vez de abrir as portas em Jersey City, nos Estados Unidos. De acordo com a Caixa, o primeiro passo rumo à internacionalização ocorreu em 2003, com o início das atividades de cooperação técnica internacional, onde pode demonstrar toda sua expertise como banco de desenvolvimento urbano, agente operador das políticas públicas de transferência de benefícios e instrumento de inclusão bancária. Hoje, esses projetos de cooperação técnica estão em andamento ou em fase de negociação com Moçambique, Nicarágua, São Tomé e Príncipe, Marrocos, Guatemala e Venezuela.
Empréstimos
O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), órgão do governo federal, é o principal instrumento de financiamento de longo prazo para investimentos em todos os segmentos da economia. Desde a sua fundação, em 1952, o BNDES apoia agricultura, indústria, infraestrutura, comércio e serviços, oferecendo condições especiais para micro, pequenas e médias empresas. O banco também vem implementando linhas de investimentos sociais, direcionados para educação e saúde, agricultura familiar, saneamento básico e transporte urbano. O apoio do BNDES se dá por meio de financiamentos a projetos de investimentos, aquisição de equipamentos e exportação de bens e serviços.