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Economia

Brasil fica em 42º lugar no ranking de inovação tecnológica

O Brasil ocupa o 42º lugar num ranking de inovação tecnológica feito pela Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE). Numa lista de 48 nações desenvolvidas e emergentes, está à frente apenas do México, África do Sul, Argentina, Índia, Letônia e Romênia. Entre os principais concorrentes de renda média, o país perde para a Coreia do Sul (8°), Rússia (29º) e China (34º), por exemplo. O baixo investimento público e privado em pesquisa, as deficiências nas políticas de incentivo e a qualidade ruim da formação profissional funcionam como um freio, atrapalhando a expansão sustentada da economia brasileira. "Com esse quadro negativo na inovação, o aumento da produtividade em médio e longo prazos fica muito prejudicado. Se o país quiser seguir a trilha do crescimento num ritmo mais acelerado, sem inflação e com elevação na renda real dos trabalhadores, vai ter que enfrentar o desafio de mudar esse cenário", afirma o economista Carlos Pacheco, professor da Unicamp. Pacheco escreveu o estudo Indicadores selecionados sobre o desempenho do Brasil em inovação, analisando os dados da OCDE a pedido da Confederação Nacional da Indústria (CNI). O pódio no ranking da organização é ocupado por Suécia, Suíça e Finlândia. Os Estados Unidos, donos da maior economia do mundo, estão em 6º lugar. Segundo dados do Ministério da Ciência e Tecnologia, o Brasil investiu R$ 32,57 bilhões em pesquisa e desenvolvimento de novos produtos e processos produtivos (P) no ano passado, o equivalente a 1,13% do Produto Interno Bruto (PIB). É o maior percentual nos últimos 10 anos, mas não representa um crescimento significativo em relação a 2007 (1,10%). O campeão na aplicação de recursos públicos e privados é Israel (4,7% do PIB), que tem um forte complexo industrial militar. A Coreia do Sul, que deu um salto tecnológico nos últimos 35 anos e ganhou competitividade no mercado internacional de eletrônicos e automóveis, injeta o correspondente a 3,2% do PIB em P e os EUA, 2,6%. Na avaliação de Pacheco, é difícil aumentar o percentual de investimentos em inovação de uma hora para outra, mas alcançar a meta de 1,5% num prazo de até 10 anos seria factível. "O pressuposto é elevar um pouco a aplicação de recursos públicos na forma de estímulos fiscais aos projetos do setor privado e aumentar a eficiência dos programas de financiamento. No mundo, cada dólar gasto pelo governo alavanca, em média, US$ 2,5 investidos pelas empresas. No Brasil, essa proporção é mais ou menos de um para um", afirma. Nos cálculos do ministério, o setor público gasta 0,60% do PIB com essa atividade no país, enquanto o privado contribui com 0,52%. Os três níveis de governo gastam 0,16% do PIB com incentivos à pesquisa privada, seja com cortes de impostos ou subvenções. Não é um valor pequeno se comparado com outros países, como os EUA (0,22%) e a França (0,18%). Segundo Pacheco, entretanto, o número é enganoso, pois a Lei de Informática é responsável por quase 70% das despesas. "Essa lei não é propriamente de estímulo à pesquisa. É uma compensação tributária para os outros estados não saírem perdendo para a Zona Franca de Manaus", diz. Tirando esse efeito, o apoio se reduz a 0,05% do PIB. Os demais programas oficiais têm poucos recursos. O diretor de Competitividade da petroquímica Braskem, Antônio Queiroz, acredita que os incentivos governamentais ainda são limitados e ineficientes, apesar de avanços recentes, como a Lei do Bem. Para ele, é preciso haver um relacionamento mais estreito entre as indústrias e as agências de fomento à pesquisa, como a federal Finep e a paulista Fapesp. "Esses órgãos deveriam colocar dinheiro nas empresas e não só apoiar pesquisas nas universidades. A inovação no ambiente da fábrica cria parques industriais mais competitivos, com uma maior produtividade", diz. Para o diretor de Pesquisa e Tecnologia da Natura, Daniel Gonzaga, a capacitação técnica possibilitada pelo investimento em P é necessária para que os produtos exportados tenham maior valor. Apostando mais nos itens manufaturados desenvolvidos nas indústrias com o apoio público, o país poderia diminuir sua dependência das vendas externas de commodities. Gonzaga também cobra uma atitude diferente das empresas. "Elas precisam estar preparadas para aproveitar os financiamentos e usufruir dos incentivos. Isso exige uma mudança cultural. Se não investirmos em inovação, não sairemos do lugar", diz. Leia mais na edição impressa do Correio Braziliense