Caminhão de prêmios, um frango ou R$ 40 semanais além do salário mensal. Esses são alguns atrativos que as construtoras estão oferecendo para o trabalhador da construção civil não faltar ao trabalho. As empresas estão investindo em premiações, salários mais altos e participação nos lucros para segurar os seus trabalhadores nos canteiros de obras. "A construção está aquecida e estamos em pleno período de campanha. Os trabalhadores não podem faltar ao serviço", afirma Osmir Venuto, presidente do Sindicato dos Trabalhadores da Construção Civil de Belo Horizonte e região metropolitana.
Entre as centenas de vagas disponíveis na agência do Sistema Nacional de Emprego (Sine), em Belo Horizonte, há a de mestre de obras com salário mensal de R$ 3 mil. É quase o dobro da média oferecida pela vaga no órgão e deveria atrair uma fila de interessados. Mas não tem sido bem assim. "O salário mais alto tem sido uma das estratégias das construtoras para agilizar a contratação, pois o mercado está muito aquecido. Muitos profissionais trabalham como autônomos e estão com a agenda do próximo ano preenchida", afirma Jane Coutinho, diretora de atendimento ao trabalhador do Sine.
Para os pedreiros, o Sine chegou a abrir vagas com salário de R$ 1.050, mais prêmio por produção, cesta básica, assistência médica, uniforme e vale-transporte. Atualmente há 120 mil trabalhadores no setor em Belo Horizonte e região metropolitana, contra 100 mil pessoas de um ano atrás. O piso salarial da categoria na capital e região metropolitana é de R$ 778. O rendimento dos mestres de obras, segundo o sindicato, chega a R$ 6 mil, dependendo da qualificação. O dos pedreiros, a R$ 2 mil.
O rendimento do pedreiro Paulo Sérgio Souza subiu 40% ao longo deste ano. "Serviço não falta. Depende do nosso empenho", afirma. Ele está no ramo há 16 anos. "Está mais fácil negociar o salário. Em qualquer lugar, se for bom de serviço, consegue emprego", afirma. Com o trabalho de pedreiro, Souza já comprou duas motos, um carro e construiu sua casa própria.
O diretor da construtora Concreto, Miguel Safar, afirma que a empresa está "lutando" contra a escassez de mão de obra desde outubro do ano passado. "Tivemos problemas sérios, pois, além do aquecimento do mercado, tivemos a obra da Cidade Administrativa, que consumiu muitos trabalhadores", diz.
O resultado foi rendimento maior no bolso do trabalhador, que acumulou muita hora extra, que paga o dobro do valor em horário normal de trabalho. Ele ressalta, no entanto, que a tendência é de reposição das vagas, já que a estrutura mais forte da Cidade Administrativa já foi concluída.
Imóveis mais caros
A escassez de trabalhadores e o aquecimento do mercado da construção refletem nos preços dos imóveis. O valor médio dos apartamentos vendidos em Belo Horizonte, de janeiro a julho de 2009, foi de R$ 184 mil, segundo pesquisa da Câmara do Mercado Imobiliário e Sindicato das Empresas do Mercado Imobiliário de Minas Gerais (CMI/Secovi-MG) e Instituto de Pesquisas Econômicas e Administrativas da UFMG (Ipead). O preço é 15% maior que a média apurada em 2008, de R$ 160 mil, segundo o levantamento.